O mercado brasileiro teve mais uma semana de queda, pressionado pelo exterior e novamente por incertezas políticas. O Ibovespa terminou a sexta-feira aos 77,5 mil pontos, acumulando uma queda de 3,4% desde segunda-feira. Nos Estados Unidos, o S&P 500 perdeu 2,26% no mesmo período.

Já o dólar deu novo passo em direção aos R$ 6 e, mesmo com intervenções do Banco Central, terminou cotado a R$ 5,84, em linha com o fortalecimento global da moeda americana visto durante a semana. Veja a seguir os principais eventos que marcaram os negócios.

Temor de uma segunda onda

Boa parte do tom negativo que dominou o mercado global veio da possibilidade de uma segunda onda de contaminações pelo coronavírus, no momento em que grandes economias começam a afrouxar as regras de isolamento social.

Nos Estados Unidos, o médico Anthony Fauci, que lidera as ações do governo americano na área de saúde, alertou para os riscos de uma reabertura prematura.

A Coreia do Sul, vista como uma referência internacional no combate à doença, teve que adiar o plano de reabrir escolas, por exemplo. O anúncio do governo sul-coreano veio após o relaxamento de algumas medidas resultar em um novo aumento no número de infectados.

Setores desabam nos EUA

As duas maiores economias do mundo divulgaram na reta final da semana seus resultados de varejo e indústria relativos ao mês de abril. Nos Estados Unidos, a produção industrial desabou 15% em abril, na comparação anual, e 11,2% ante março.

Embora seja a maior queda mensal em mais de um século, o número veio em linha com as expectativas. Com as atividades suspensas ou reduzidas nas fábricas, a queda na indústria de transformação foi de 13,7%.

No comércio americano, as vendas totais tiveram desempenho mais fraco do que o esperado em abril, ao recuar 16,4% na comparação mensal, contra expectativa de -12,0%.

Por lá também foram monitorados os novos pedidos de seguro-desemprego, que frustraram as expectativas do mercado ao somar 3 milhões.

Recuperação na China

Já na China, a produção industrial avançou 3,9% na comparação interanual, maior do que o consenso do mercado e do que foi visto no mês anterior. Por outro lado, as vendas no varejo caíram 7,5% na mesma base de comparação, resultado pior que o esperado.

E na Europa, o PIB da Alemanha encolheu 2,2% no primeiro trimestre, contra o trimestre anterior. A queda foi a maior registrada desde o primeiro trimestre de 2009, mas veio dentro das expectativas. Com o resultado, o país entrou tecnicamente em recessão.

Já o Reino Unido registrou uma queda de 2%, maior retração desde o quarto trimestre de 2008. A queda foi menos acentuada do que se projetava.

Política volta a preocupar

As disputas em Brasília voltaram a tornar o cenário político menos previsível, outro fator que contribuiu para uma postura mais defensiva dos investidores. A semana começou já com holofotes sobre a série de depoimentos para apurar as denúncias do ex-ministro Sergio Moro sobre uma possível interferência do governo na Polícia Federal.

As tensões aumentaram com o pedido de demissão do ministro da Saúde, Nelson Teich, nesta sexta-feira, menos de um mês à frente da pasta.

Também houve expectativas para a etapa final de tramitação do socorro a Estados e municípios, que prevê repasse de R$ 60 bilhões aos governos estaduais e municipais. O mercado segue atento se o presidente Jair Bolsonaro irá vetar a exclusão de diversas categorias do congelamento salarial.

Outro destaque foram as discussões em torno do auxílio-emergencial de R$ 600, que poderia ser estendido para além dos três meses iniciais. Em conversa com o Safra transmitida ao vivo, o secretário de Política Econômica do governo rechaçou essa possibilidade.

Covid aparece em indicadores

O Banco Central mostrou que o IBC-Br, uma aproximação do PIB do país, terminou o primeiro trimestre com recuo de 1,95% em relação aos três meses anteriores. Somente em março, a queda foi de 5,9% – o mês de abril, mais afetado pelas paralisações, deve vir ainda pior.

No mercado de trabalho, o governo anunciou que o número de pedidos de seguro-desemprego saltou 22,1% em abril deste ano, na comparação com o mesmo mês do ano passado.

Já o IBGE revelou que as vendas varejistas no conceito restrito – que não considera veículos e materiais de construção – caíram 2,5% em março, considerando a variação mensal dessazonalizada. No comércio ampliado, o recuo foi de 13,7%.

Por fim, o volume de serviços prestados no país, também segundo o instituto, teve uma queda de 6,9% em março contra fevereiro.