Os mercados financeiros voltaram a registrar perdas na semana. No Brasil, a Bolsa havia interrompido uma sequência de cinco semanas seguidas de perdas, mas desta vez voltou ao negativo. No acumulado desde segunda-feira, o Ibovespa registrou queda de 5,30%. Nos Estados Unidos, o recuo foi menor. O índice S&P 500 caiu 2,08%.

Os ativos continuam a oscilar de acordo com relatos da evolução da pandemia de coronavírus, dados econômicos apontando para um forte impacto no segundo trimestre e anúncios oficiais de suporte econômico e monetário. Separamos, abaixo, alguns dos principais fatos da semana.

1 milhão de infectados

Segundo a universidade americana de John Hopkins, o mundo superou a marca de 1 milhão de pessoas infectadas pelo coronavírus na quinta-feira. Atualmente, o número se aproxima de 1,1 milhão. Os países com o maior número de registros são Estados Unidos (266,7 mil), Itália (119,8 mil) e Espanha (117,7 mil). 

O crescimento do coronavírus é expressivo sobre a semana anterior. No dia 27 de março, os dados compilados pela universidade apontavam para 660,7 mil casos confirmados.

No Brasil, segundo dados da mesma universidade, os casos confirmados avançaram de cerca de 4 mil na semana passada para mais de 8 mil nesta semana. No entanto, o próprio Ministro da Saúde, Luiz Mandetta, confirmou ao longo da semana que este número está defasado, uma vez que há uma série de testes represados. Segundo o ministro, devemos ver um crescimento expressivo nos próximos dias.

Isolamento prolongado

As políticas de isolamento se mostraram incontornáveis no combate ao avanço do coronavírus. A semana se iniciou com a extensão das medidas de distanciamento social nos Estados Unidos, marcando uma mudança na postura do governo americano. Antes disso, o presidente Donald Trump defendia que as medidas de restrição à circulação de pessoas fossem relaxadas.

Segundo o próprio presidente dos EUA, sem essas medidas, o número de mortos poderia chegar a 2,2 milhões no país. Ao longo da semana, diversos governos optaram por prolongar as políticas de isolamento, uma vez que algumas delas terminariam no final de março ou incício de abril. Alemanha, Argentina, Bélgica, Espanha, França e Itália foram alguns dos países que seguiram por esse caminho.

No mercado, tem crescido a percepção de que a manutenção das medidas de isolamento social é importante para evitar uma segunda onda de contaminações, o que geraria um novo impacto econômico mais à frente.

Para entender como esse cenário está se desenrolando no Brasil, conversamos nesta semana com o diretor geral do Hospital Sírio Libanês, Paulo Chapchap. O médico declarou acreditar que as medidas de isolamento social no Brasil devem permanecer em vigor durante abril e maio, podendo iniciar um movimento de abertura em junho. Você pode conferir a entrevista na íntegra aqui.

Sinais de recessão

Se o isolamento social parece ser unanimidade entre os especialistas da saúde, o impacto na economia também parece inevitável. O alto grau de incerteza em relação aos efeitos da paralisação econômica deu um peso extra aos indicadores econômicos de março, com investidores em busca de mais nitidez quanto aos próximos meses.

Na China, um índice que sonda a atividade na indústria e no setor de serviços (PMI) chegou a animar o mercado ao passar de retração para expansão das atividades, mas nosso time de Macroeconomia ponderou que outros indicadores importantes para avaliar a economia real não seguiram essa melhora.

Do outro lado do planeta, no entanto, o mercado de trabalho americano traria um balde de água fria. O número de novos pedidos de seguro-desemprego, que já havia batido recorde na semana anterior, com 3,3 milhões, dobrou nos Estados Unidos. Foram 6,6 milhões de novos pedidos, um número pior do que todas as projeções de mercado. Com isso, nas duas últimas semanas de março o total chega a 10 milhões de novos pedidos de seguro-desemprego.

Um dia depois, o governo americano informou que foram fechados 701 mil postos de trabalho no mês passado, o pior número em mais de uma década e mais que o dobro do projetado pelo mercado. A taxa de desemprego avançou de 3,5% em fevereiro para 4,4% no mês passado. Esse foi o maior crescimento na taxa de desemprego em um único mês desde janeiro de 1975. Nosso time de Macroeconomia destaca que os dados do desemprego foram coletados até 12 de março. Por isso, ainda não captou esse saldo de 10 milhões de novos pedidos de seguro-desemprego, o que aumenta a expectativa em relação aos próximos números.

Estímulos econômicos

Comparado à semana anterior, os estímulos econômicos foram mais tímidos nesta semana. Ainda assim, nos EUA tem ganhado força a discussão em relação a um pacote econômico adicional. Lembrando que na semana anterior foi aprovado um programa de US$ 2,2 trilhões. Desta vez, a imprensa norte-americana fala em números iniciais de US$ 600 bilhões. Este tema permanece em estágio inicial, devendo se desenrolar ao longo do mês, e com possibilidade de incremento no valor do programa.

No Brasil, o governo segue divulgando uma série de medidas em apoio a trabalhadores, empresas e população vulnerável. Segundo o Ministério da Economia, as ações emergenciais já somam R$ 750 bilhões e devem ficar restritas a 2020, sem contaminar o orçamento do próximo ano. O governo tenta aprovar uma PEC que tem sido chamada de "Orçamento de Guerra", de modo a segregar os valores destinados ao combate à crise do orçamento tradicional.

Esta semana foi marcada por avanços em medidas como o auxílio de R$ 600 por mês, durante três meses, a trabalhadores informais, intermitentes, autônomos, desempregados, microempreendedores, entre outros. Também chamou atenção a Medida Provisória que permite a redução na jornada de trabalho, com igual redução de salário. O desafio, no entanto, permanece em como operacionalizar essas medidas.

Nossa economista Priscila Deliberalli conversou com José Roberto Mendonça de Barros sobre esse tema e os demais impactos do coronavírus na economia – relembre como foi a conversa

Petróleo traz alívio pontual

A boa notícia da semana ficou por conta do mercado de petróleo. O anúncio de um possível acordo entre Rússia e Arábia Saudita fez o barril saltar mais de 20% na quinta-feira, o maior ganho diário da série histórica.

A possibilidade de um acordo foi anunciada pelo presidente dos Estados Unidos. Em comunicado, a Opep acenou a favor da possibilidade de restaurar um equilíbrio no mercado. O mercado aguarda, agora, os próximos desdobramentos.

Vale lembrar que, após os impactos do coronavírus, o colapso do petróleo foi o evento que trouxe mais volatilidade aos mercados em março. O preço do barril, atualmente abaixo de US$ 30, segue em nível considerado crítico para as atividades de empresas petrolíferas. 

Projeção atualizada para Ibovespa e recomendações para investir

Na semana passada, nosso time de Macroeconomia atualizou o cenário e passou a projetar um PIB negativo em 2,8% neste ano. Com isso, a equipe de análise da nossa Corretora também atualizou o cenário para a Bolsa neste ano. Desta forma, a projeção para o Ibovespa foi reduzida de 140 mil pontos para 97 mil pontos ao final deste ano.

Segundo nossos analistas, o cenário atual ainda traz muitas incertezas, uma vez que não se sabe até quando as medidas de isolamento social permanecerão em vigor. No entanto, a médio e longo prazo, a expectativa é de recuperação, principalmente para a Bolsa, ambiente no qual negociam grandes empresas, que, apesar de também impactadas, são menos vulneráveis à crise.

Neste cenário, para ajudar o investidor a navegar nesse ambiente de incertezas, nossa Corretora preparou uma série de materiais com recomendações. Você pode ver as ações preferidas dos nossos analistas para cada setor, além de conferir as carteiras recomendadas de ações e de dividendos.