O mercado seguiu volátil em um cenário que confronta mais estímulos fiscais e monetários aos novos casos de coronavírus em economias importantes. Ainda assim, o Ibovespa ganhou força nesta semana, fechando com ganho acumulado de 4% desde segunda-feira.

Um dos temas que marcaram a semana foi o início de uma recuperação da atividade em maio, após forte baixa em abril, percepção que ganhou força a partir da divulgação de uma série de dados nos últimos dias. Confira os destaques a seguir.

Nova rodada de estímulos

Diversas medidas expansionistas foram divulgadas nesta semana, o que deu fôlego aos ativos. O movimento foi iniciado pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que anunciou uma ampliação no escopo de seu programa de compras de títulos corporativos.

O valor total do programa continuou em US$ 750 bilhões, mas o banco poderá lidar agora com ativos individuais no mercado secundário. Antes, o Fed só podia operar nesse mercado por meio de fundos negociados em bolsa.

O BC americano também lançou seu programa de crédito a empresas de médio porte, anunciado há mais de dois meses. A autoridade monetária irá assumir a maior parte dos riscos dos empréstimos, que vão de U$ 250 mil a US$ 300 milhões, com prazos de cinco anos.

Na Espanha, o governo criou um fundo de € 16 bilhões, do qual a maior parte será destinada à recuperação dos serviços de saúde. Parte do dinheiro também irá compensar as regiões autônomas pela queda de receita provocada pelas medidas de isolamento. Além disso, também foi aprovada nova uma parcela de crédito de €15,5 bilhões às empresas espanholas.

Também nesta semana, o Banco do Japão estendeu seu pacote de empréstimos corporativos dos US$ 690 bilhões anunciados no mês passado para cerca de US$ 1 trilhão.

O Banco da Inglaterra, por sua vez, aumentou seu programa de compra de títulos em £ 100 bilhões. A autoridade irá direcionar todo esse valor para a compra de títulos do governo. A carteira da instituição chega assim a £ 745 bilhões.

O governo da China também participou do movimento e sinalizou que as medidas de apoio ao sistema financeiro serão mantidas neste segundo semestre. Já a Alemanha decidiu expandir mais uma vez seu orçamento, o que deverá elevar a dívida no país a mais de € 218 bilhões em 2020, subindo de cerca de 60% para 77% do PIB.

Temor com segunda onda

Mas foi a cautela que predominou no começo da semana, diante de um novo surto da Covid-19 em Pequim. As atividades na capital chinesa vinham gradualmente voltando ao normal, mas as autoridades foram obrigadas a reverter os relaxamentos.

Zonas residenciais voltaram a ficar sob medidas de confinamento, escolas foram fechadas e aeroportos cancelaram centenas de voos programados. Já na reta final da semana, o avanço das contaminações foi controlado, segundo as autoridades locais.

Também gerou preocupação o números de casos de coronavírus nos Estados Unidos. As contaminações chegaram a avançar na California, Florida e Texas, os três Estados mais populosos do país.

O temor se agravou na sexta-feira, quando a Apple, uma das principais empresas do mundo, anunciou que fecharia novamente 11 lojas por lá, devido ao aumento das contaminações. Segundo o governo americano, o número total de casos confirmados de coronavírus no país chegou a 2,2 milhões.

Recuperação em maio

Vários dados influenciaram os negócios nos últimos dias. Nos Estados Unidos, as vendas no varejo americano avançaram 17,7% em maio, em relação a abril, recuperação bem mais forte do que se esperava. O resultado superou o recorde anterior de outubro de 2001. Um dos destaques foi a retomada do varejo de moda, que quase triplicou as vendas no período.

A indústria também indicou um começo de retomada. A produção no setor avançou 1,4% na comparação mensal. O resultado veio abaixo das expectativas do mercado, mas é uma melhora significativa em relação à forte queda observada em abril. Destaque para o segmento automotivo, que, partindo de uma base bastante reduzida, teve alta de mais de 80% na margem.

Já os dados de novos pedidos de seguro-desemprego totalizaram 1,5 milhão na semana encerrada em 13 de junho, na 11ª desaceleração semanal. O resultado trouxe certa frustração, uma vez que a expectativa do mercado era por uma redução ainda maior no ritmo das solicitações, após a taxa de desemprego surpreender positivamente em maio.

Tombo em abril

Ao longo da semana, levantamentos sobre a atividade no Brasil mostraram o forte impacto da pandemia em abril. O IBGE mostrou que as vendas no varejo restrito caíram 16,8% naquele mês, em relação a março, com ajuste sazonal. Foi o pior resultado mensal desde o início da série histórica, em janeiro de 2000.

No entanto, a equipe de Macroeconomia do Safra destacou que, no conceito ampliado, que considera o comércio de veículos e materiais de construção, o recuo veio menos negativo do que as estimativas. Esse é o dado que nossos especialistas utilizam nos modelos de projeção do PIB. A expectativa agora é que o setor apresente uma recuperação gradual a partir dos dados de maio.

Um dia depois, o instituto mostrou mais uma baixa recorde, desta vez no setor de serviços. O volume dos serviços no país recuou 11,7% em relação a março, maior queda da série histórica, iniciada em janeiro de 2011.

A equipe de Macroeconomia do Safra lembrou que apenas parte dessa pesquisa é utilizada como indicador antecedente do PIB de serviços, e ressaltou o desempenho negativo dos serviços prestados às famílias e do setor de transportes.

De acordo com o IBGE, o único crescimento dos serviços em abril veio do Mato Grosso, por conta do aumento do transporte ferroviário de cargas para escoar a produção de grãos da região.

Por fim, o Banco Central divulgou o IBC-Br de abril. O índice, que é considerado uma aproximação do PIB em base mensal, desabou 9,7% em relação a março, maior baixa desde 2003, quando começou a ser calculado.

Novo corte na Selic 

O Banco Central divulgou sua decisão de política monetária na quarta-feira. O BC seguiu a sinalização da última reunião e reduziu de maneira unânime a Selic a 2,25% ao ano, menor patamar da história. O corte de 0,75 ponto porcentual era amplamente esperado pelo mercado, de modo que o foco dos analistas recaiu sobre o comunicado divulgado pelos dirigentes.

Nele, o BC destacou que o cenário segue desafiador em consequência da pandemia, e que a trajetória fiscal será decisiva para determinar o prolongamento dos estímulos monetários. A sinalização para as próximas reuniões é de que eventuais novos cortes não deverão ser tão agudos quanto os últimos dois. Com isso, a equipe de Macroeconomia do Safra acredita que, dado o cenário projetado de baixa inflação, deverá haver pelo menos mais uma redução de 0,25 ponto em agosto.

MPs avançam no Congresso

No Brasil, houve alguma tensão em relação à equipe econômica do governo logo no início da semana, com o anúncio da saída de Mansueto Almeida da Secretaria do Tesouro Nacional em agosto. Mas o nome de Bruno Funchal escolhido para a sucessão foi bem recebido pelos investidores.

E a tramitação de textos importantes também movimentaram Brasília. A Câmara dos Deputados aprovou o texto-base da MP 927, que altera regras trabalhistas até dezembro. A medida prevê redução de salários, antecipação de férias e de feriados, concessão de férias coletivas e teletrabalho, entre outras medidas.

Antes disso, os deputados já haviam aprovado na terça-feira outra medida provisória, a 932, reduzindo em 50% as contribuições das empresas para financiar o Sistema S em abril e maio.

Essas duas matérias seguiram para avaliação do Senado, que por sua vez, aprovou na terça-feira a MP 936, que permite a redução de salários e jornadas, bem como a suspensão de contratos, durante a pandemia. Como foi alterado, o texto depende agora da sanção do presidente da República.

Já o Ministério da Economia prorrogou novamente o prazo para pagamento de tributos federais. Diante da crise do coronavírus, as contribuições para o INSS, PIS/Pasep e Cofins com vencimentos em maio poderão ser pagas em outubro. O governo já havia adiado a data de recolhimento de impostos com vencimentos em março e abril.

Combate à Covid-19

Uma nova fonte de otimismo surgiu nesta semana. Cientistas da Universidade de Oxford anunciaram um estudo que identificou que a dexametasona, um corticóide comum, poderia ajudar na recuperação de pacientes gravemente doentes do coronavírus.

De acordo com os pesquisadores britânicos, houve redução de um terço das mortes em pacientes que precisavam de tratamento com oxigênio e receberam o corticoide.

Trata-se do primeiro remédio que poderia reduzir a letalidade da doença, já que o outro que teve resultados positivos é o antiviral remdesivir, que serviria para reduzir o tempo de tratamento.