O mercado brasileiro voltou a registrar uma semana de ganhos. Deram fôlego aos ativos nesta semana mais curta as expectativas em relação a uma estabilização do número de novos casos de coronavírus e a um acordo entre sauditas e russos sobre a produção de petróleo.

O Ibovespa emplacou uma sequência de três fechamentos no azul. Embora o último dia de negociação tenha sido de queda, na semana o principal índice de ações do país subiu 12,17%. Nos Estados Unidos, o índice S&P 500 caiu apenas na terça-feira, e o resultado semanal também foi uma alta de 12,10%.

Veja quais foram os principais eventos da semana.

Guerra de preços do petróleo

Desde o início da semana, os investidores ficaram atentos ao mercado de petróleo. Em março, uma guerra de preços entre Rússia e Arábia Saudita abalou os mercados financeiros ao redor do mundo, criando uma crise que se somaria aos temores do coronavírus.

A Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) convocou uma reunião emergencial com a Rússia e outros países aliados para tentar encerrar a disputa. O encontro estava originalmente marcado para segunda-feira e foi adiado para esta quinta-feira, gerando uma série de especulações positivas e negativas sobre o resultado do encontro ao longo da semana.

Por fim, segundo informações da imprensa internacional, Rússia e Arábia Saudita chegaram a um princípio de acordo para cortar a produção em 10 milhões de barris de petróleo por dia entre maio e junho. No entanto, chegou a ser discutida a possibilidade de um corte maior, de 20 milhões de barris de petróleo por dia. Até o momento da publicação deste Resumo Semanal, ainda não foi divulgado um comunicado oficial sobre a reunião. 

Esperança e temor com coronavírus 

A semana foi de sinalizações contrárias em relação ao avanço do coronavírus no mundo. Enquanto no início da semana a desaceleração no número de novos infectados na Europa e nos Estados Unidos ofereceu esperança de que as próximas semanas serão melhores, um forte crescimento no número de mortos nos dias seguintes lembrou que a situação permanece crítica e diminuiu o otimismo.

A atenção esteve voltada para o estado de Nova York, onde o número total de casos confirmados, próximo de 160 mil, já ultrapassa o de países inteiros, como Espanha e Itália. Por lá, a semana marcou um recorde no número de mortos. 

No entanto, o governo americano já estuda alternativas para a reabertura da economia. Foi o que declarou Anthony Fauci, o epidemiologista que está à frente da força-tarefa de combate ao coronavírus no país. Segundo declarou, nos próximos dias deve ser anunciado um plano de possível reabertura, que poderia ser implementado caso o país demonstre sucesso nas medidas de contenção neste mês. 

Na Itália, o primeiro-ministro, Giuseppe Conti, também declarou ontem que pode começar a relaxar algumas medidas de restrição até o fim deste mês.

E foi isso o que aconteceu na cidade chinesa de Wuhan, primeiro epicentro da crise no mundo. A cidade, com 11 milhões de moradores, estava fechada desde o fim de janeiro e foi reaberta oficialmente na última terça-feira.

Quando comparado ao cenário internacional, o Brasil, contudo, está em um estágio anterior da pandemia, com 17.857 casos confirmados e 941 mortes, conforme mostram dados divulgados pelo Ministério da Saúde na tarde desta quinta-feira. No Estado de São Paulo, que é o epicentro da crise no país, a quarentena, que se encerraria na última terça-feira, foi estendida até o dia 22 de abril.

Revisão nos números do primeiro semestre

Apesar dos esforços da sociedade e das autoridades, os impactos econômicos da crise se mostram inevitáveis. Nossa equipe de Macroeconomia acreditava que o primeiro trimestre do ano seria marcado por uma retração de 0,3% no PIB, mas agora projeta que haverá uma queda de 1,9% no período, puxado pelos resultados mais fracos esperados em março.

A revisão não alterou a estimativa do nosso time para o PIB do ano inteiro, de contração de 2,8%, uma vez que parte do impacto esperado para o segundo trimestre foi antecipado para o mês de março, como mostra uma série de indicadores econômicos divulgados nos últimos dias.

FGTS e auxílio-emergencial

Nesta semana, o governo brasileiro publicou uma Medida Provisória que possibilita saques do FGTS a partir de junho. A estimativa do governo é que essa medida tenha um impacto de R$ 35 bilhões na economia, beneficiando 60 milhões de trabalhadores.

Como os saques devem começar apenas a partir de junho, não haverá um impacto imediato na economia. Medidas como essa já fazem parte do modelo do time de Macroeconomia do Safra utilizado para projetar a queda do PIB de 2,8% neste ano.

A liberação faz parte de um conjunto de medidas que o governo vem promovendo para mitigar os efeitos da pandemia no país. Há uma grande preocupação entre os economistas, contudo, que as despesas fiquem restritas a 2020, retornando à trajetória de ajuste fiscal no próximo ano. O Secretário Especial de Fazenda, Waldery Junior, reforçou em conversa com o Safra que esse é o cenário que o governo trabalha.

A semana também foi marcada pelo início da operacionalização do pagamento do auxílio-emergencial de R$ 600 por mês para trabalhadores informais, autônomos, desempregados e microempreendedores. Para atender quem não tem conta bancária, a Caixa Econômica Federal anunciou que vai abrir 30 milhões de contas digitais. Apenas no primeiro dia, foram mais de 15,1 milhões de cadastros de trabalhadores informais interessados em receber o auxílio emergencial. O pagamento será feito em etapas.

Ainda sobre medidas emergenciais de combate ao coronavírus, o projeto de socorro a estados e municípios também segue em foco e deve ganhar mais atenção nos próximos dias. O texto, que seria votado pelo Congresso nesta semana, foi adiado para a segunda-feira. O impacto fiscal pode chegar a R$ 180 bilhões. 

Alocação de investimentos

Nesta semana, promovemos alguns ajustes em nossa visão para carteiras de investimentos de diferentes perfis. Diminuímos marginalmente a exposição à renda variável, apesar de continuar acreditando no potencial dessa classe de ativos, e promovemos a parcela dedicada a fundos multimercados e títulos prefixados de Renda Fixa. Veja as alterações nas carteiras.

Além desse relatório, os interessados em saber mais sobre as oportunidades e desafios de investimentos  podem conferir a conversa de nossos diretores Ricardo Negreiros e Mauricio Hazzan. Entre diversos temas, eles comentaram sobre as dificuldades fiscais que podem se agravar no pós-crise, e sobre as distorções de preços que se tornam boas oportunidades de negócios.

Eleições nos EUA

A semana também foi de definição na corrida presidencial dos EUA. Bernie Sanders se retirou da disputa para concorrer pelo partido Democrata, abrindo caminho para que o ex-vice-presidente Joe Biden se consolide como o maior adversário de Donald Trump no pleito marcado para novembro deste ano.

As pesquisas eleitorais feitas até o momento têm desenhado uma disputa muito acirrada entre os dois prováveis candidatos, sendo que algumas delas chegam a colocar Joe Biden à frente na disputa.

Novos estímulos nos EUA

A corrida presidencial dos EUA começa a ganhar contornos mais claros em um momento no qual a economia americana deve sofrer com os efeitos da pandemia. Os novos pedidos de seguro-desemprego na semana encerrada em 4 de abril somaram 6,6 milhões, resultado mais uma vez significativamente pior que a expectativa do mercado (5,5 milhões). Antes, os dois últimos dados já somavam quase 10 milhões de pedidos.

Nesse cenário, o Secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, pediu ao Congresso americano a ampliação do programa de ajuda à folha salarial de pequenas empresas, que atualmente está avaliado em US$ 350 bilhões. O pedido é por um valor adicional de US$ 250 bilhões de dólares.

No mês passado, o governo americano já havia aprovado um programa econômico de US$ 2,2 trilhões. Vale lembrar que também está em discussão no Congresso outro plano de ajuda à economia. Somados, esses valores podem chegar a um total próximo a US$ 3,5 trilhões de dólares.

Nesta quinta-feira, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) também anunciou novas medidas de provisão de liquidez que devem somar cerca de US$ 2,3 trilhões. Entre as propostas, estão a compra de até US$ 600 bilhões em empréstimos de pequenas e médias empresas e o lançamento de um programa de US$ 500 bilhões em ajuda financeira a estados e municípios. Outras medidas também seguem em discussão.

Dividendos de bancos

No início da semana, o Conselho Monetário Nacional (CMN) anunciou a suspensão da distribuição de dividendos acima do mínimo obrigatório previsto no estatuto das instituições financeiras. A medida tem validade até o dia 30 de setembro.

Segundo nossos analistas, a restrição é negativa para as ações do setor, considerado uma boa opção para o investidor que busca dividendos. Mas o impacto é limitado por se tratar de uma medida temporária, destacam.