O coronavírus trouxe uma volatilidade poucas vezes vista nos mercados, um ambiente desafiador até mesmo para os investidores mais experientes. Para mostrar a visão de um dos principais gestores do país sobre a crise atual, o Safra conversou na segunda-feira com o sócio-fundador da SPX Capital, Rogério Xavier.

Em bate-papo ao vivo com Mauricio Hazzan, diretor de investimentos do Safra Private Banking, foram abordados temas como os impactos do coronavírus na economia e o desafio da gestão de ativos nesse momento.

Para Xavier, as maiores preocupações dentro do panorama econômico são a escassez de crédito para as empresas e como o Brasil vai recuperar seu caixa após a crise. Com o cenário ainda nebuloso no país, o gestor conta que as melhores oportunidades de investimentos estão nos Estados Unidos. Por enquanto, a palavra de ordem é prudência em relação aos ativos de risco brasileiros. 

Um dos conselhos dados pelo gestor, que tem mais de 30 anos de carreira no mercado financeiro, é não tomar grandes riscos. “Temos que deixar o tempo passar. Os preços estão baratos, mas para qual cenário? Realmente está barato? Não sei responder”, disse. 

Enquanto a ciência não encontra a cura ou tratamento para a Covid-19, Xavier aponta que não é o momento de ser herói no mercado financeiro e acreditar que a primeira oportunidade é a que tem que pegar. Para ele, quando não se tem total consciência da situação, é melhor aguardar. 

Confira a seguir os principais trechos da conversa e, ao fim da leitura, o vídeo na íntegra.

Cenário de 2020 antes do coronavírus

Logo no início da conversa, Hazzan voltou um pouco no tempo para falar de como estávamos antes da crise começar. No fim do ano, o coronavírus já dava seus sinais de preocupação, mas segundo Xavier, foi subestimado e tratado pelo mercado como um problema distante. “O mercado gosta mais do sonho do que da realidade, e expectativas mostravam que continuaríamos numa trajetória positiva. Porém, vimos uma epidemia atingindo o mundo inteiro”, disse. 

Para Xavier, essa avaliação equivocada ocorreu porque crises são raras e as proporções dessa que vivemos nunca foram vistas. No Brasil, ele lembrou do Plano Collor, que teve um efeito parecido em termos de liquidez e falência das empresas. Mas, mesmo para o gestor, é impossível dizer os impactos e em qual momento da trajetória da crise nos encontramos atualmente.

O ajuste fiscal ficou pra trás?

O gestor da SPX demonstrou preocupação em torno das pautas que estão sendo tratadas pelo Congresso.

“Começaram a emergir várias pautas bombas. Claro que querem fazer o bem, mas se a conta ficar do tamanho que já vimos no passado, poderá ser impagável”, alertou. Segundo ele, não há espaço para um afrouxamento das contas públicas, sobretudo dos Estados, pois o país caminha para uma forte queda da atividade econômica e alta do desemprego. Com esse horizonte, ficará mais difícil fazer sacrifícios financeiros no futuro. 

“Não temos condição de gastar tudo isso se não vamos recuperar. Temos que ter eficiência na alocação dos recursos.  Se afrouxarmos, estaremos indo para o abismo, para uma irresponsabilidade fiscal”, disse.

Diante da fala de Xavier sobre os gastos públicos, Hazzan então o questionou sobre como direcionar esses recursos para que eles sirvam a quem precisa e ajudem a economia. 

Na opinião de Xavier, a grande preocupação é a falta de crédito para as empresas. Ele explica que foram disponibilizadas linhas de crédito, mas em tempos de piora na economia e baixa capacidade de pagamento das empresas, o crédito fica escasso ou muito caro. 

“Toda a discussão do mercado deve ser o crédito. Não importa em quanto está a Selic. As pessoas da ponta estão discutindo como fazer para pagar seus impostos, manter empregos”. 

Xavier disse que a proposta do Banco Central de emprestar ou comprar títulos diretamente dessas empresas aponta para uma solução. Hazzan questiona se o Banco Central brasileiro tem autonomia e independência para isso e Xavier acredita na capacidade do diagnóstico da autoridade monetária sobre esse tema, que para ele é o mais sensível quando se trata dos recursos financeiros para conter os impactos da crise na economia.

Até onde vai o dólar?

“O câmbio vai para cima com certeza se o Banco Central continuar fazendo intervenções”, apontou Xavier. Segundo ele, haverá um desequilíbrio se a autoridade monetária continuar baixando os juros e vendendo reservas ao mesmo tempo. 

“Em tempos de guerra, temos que fazer justamente o contrário: guardar munição para o que está por vir. Se não vier nada, o câmbio volta a cair e a economia começa a estabilizar, eu (Banco Central) volto a baixar os juros e mantenho minhas reservas”, analisou.

Sobre proteções financeiras, chamadas no mercado de hedge, Xavier diz que elas tendem a funcionar em momentos de estresse, mas custam caro. Ele contou que em situações boas, mas de muito risco, a SPX prefere fazer posições menores, que permitem movimentações rápidas, a ter uma outra posição correlacionada.

Fundos de crédito

Na opinião de Xavier, nos Estados Unidos, o mercado de crédito está dando grandes oportunidades. Papéis de empresas grandes, com boa nota de crédito, estão pagando taxas há tempos não vistas. Para ele, os investidores deveriam olhar mais para o mercado americano, tanto em dívida, como em ações. Para o Brasil, o momento ainda é de cautela.

Para ele, o governo ainda precisa aprovar medidas que garantam que o recurso “vai mudar o ponteiro da economia e não abrir flancos para as pessoas gastarem mais”. Enquanto isso não acontece, o momento pede mais prudência em relação aos ativos de risco brasileiros.

Veja abaixo o bate-papo na íntegra: