A inflação de alimentos vem ganhando destaque nos últimos dias. Para apresentar mais detalhes sobre o cenário inflacionário no Brasil, nosso time de Macroeconomia analisou os últimos dados do IPCA e do IGP, e projetou o que esperar daqui para frente.

Conforme publicamos na semana passada, o IPCA de agosto avançou 0,24% sobre julho, levemente acima da nossa projeção (+0,22%). Em 12 meses, no entanto, a inflação permanece contida, com o índice passando de uma alta de 2,31% para 2,44%.

Ao analisar os dados de agosto, o setor de “Alimentos e Bebidas” concentrou o maior desvio entre os números previstos por nossos economistas, com diferença em relação às projeções de 0,15 ponto porcentual a mais. No acumulado do ano, a alta já é de 6,1%.

Em relatório, nosso time de Macroeconomia avalia que a desvalorização cambial, o aumento das exportações, a forte demanda da China e sustentação de renda com o auxílio emergencial ajudam a explicar essa alta nos preços dos alimentos.

IGP em alta

No entanto, nossos especialistas lembram que os efeitos mais diretos desses fatores podem ser observados nos IGPs, em especial o IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna), que foi divulgado na semana passada. O índice surpreendeu o consenso do mercado e também as projeções do nosso time de especialistas e subiu 3,87% em agosto, quase um ponto percentual acima do previsto (2,89%).

No ano, o IGP-DI atingiu a marca de 11,13%. E, em 12 meses, de 15,23%. Nossos especialistas lembram que o IGP é constituído por outros três índices: o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) – esse seria o índice mais próximo do IPCA — e o Índice Nacional de Custos da Construção (INCC).

Com a abertura desses dados, observa-se que a aceleração da inflação no IGP foi majoritariamente explicada pelo avanço do IPA, grupo que representa pouco mais de 60% do índice, enquanto o IPC e o INCC permaneceram estáveis.

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O IPA surpreendeu ao passar de 3,14% em julho para 5,44% em agosto, variação espalhada em todos os grupos (“Matérias-Primas Brutas”, “Bens Intermediários” e “Bens Finais”), em especial nos subgrupos de commodities metálicas e agrícolas.

Ademais, a correlação entre o IPA agropecuário (o IPA pode ser quebrado entre agropecuário e industrial) e a alimentação no IPCA mostra que o repasse já vem ocorrendo de forma bem intensa. E, pelos dados prévios de IPA de setembro, mais pressões no grupo devem permanecer no curto prazo.

Projeções para a inflação

No curto prazo, nossos especialistas projetam uma aceleração no IPCA, com variação de 0,31% nos preços em setembro e 0,29% em outubro. 

Devido à aceleração adicional no preço dos alimentos, nosso time de Macroeconomia elevou a projeção do IPCA para o ano de 1,8% para 2,0%, mas essa ainda é uma taxa considerada muito baixa e distante da meta do Banco Central, que é de 4% para o ano.

O caráter desinflacionário da crise do coronavírus e a profunda recessão — também motivada pela pandemia -— inibiram o repasse dos preços do atacado para o varejo em bens industriais e serviços, bem como inibiram os reajustes nos preços administrados, como das tarifas de ônibus, energia elétrica, água, esgoto e planos de saúde.

Com a recuperação gradual da economia e do mercado de trabalho, a projeção é que parte desses repasses pode aparecer já em 2021, ano no qual a estimativa de nossos especialistas é por uma inflação de 3,1%.