Pelo segundo ano consecutivo, o real é uma das moedas que mais perderam valor, com queda próxima às do peso argentino e da lira turca.

Ao contrário do habitual, o bom desempenho das nossas exportações e dos preços das commodities não se traduziram em fortalecimento do real.

As implicações e consequências da pandemia parecem continuar pesando sobre a taxa de câmbio, apesar da redução de outros fatores que a vinham deprimindo.

Saiba mais:
> Dólar é um bom investimento?
> Acompanhe as análises do Safra em nosso canal no Telegram
Baixe o app e abra a sua conta no Safra

O preço do minério subiu, até o momento, mais de 45% em relação à média de 2020, e os contratos futuros apontam que ele deverá se manter na faixa de US$140/ton nos próximos meses. A soja também apreciou mais de 25%, com  perspectiva de uma demanda forte até 2022, e os preços agrícolas no conjunto estão crescendo em média acima de 25%.

A desvalorização do câmbio médio próxima a 6% também contribuirá para o crescimento das exportações, enquanto encarece as importações. O saldo da balança comercial deverá, portanto, ultrapassar US$ 70 bilhões em 2021.

O saldo da balança de serviços, por sua vez, também continua favorável. Os gastos com viagens, remessas de lucros e dividendos e pagamentos de juros serão mais uma vez bem menor do em anos recentes, por conta de restrições a viagens, baixo crescimento da economia, e juros internacionais também baixos. Dessa maneira, nossa conta corrente com o resto do mundo será positiva pela primeira vez em 15 anos.

cc _1_.png

É possível que o movimento de saída na conta capital amenize e o fluxo cambial fique mais casado com o comercial. Houve grande saída de recursos de carteira (portfolio flows) em 2020, que não deve se repetir no ano corrente,  contribuindo para um fluxo cambial financeiro negativo em US$50 bilhões no ano passado.

É possível também que uma proporção maior das receitas de exportação seja internalizada, revertendo a tendência  iniciada em 2018. Segundo o Banco Central, uma parte dos recursos não internalizados foi utilizado pelas empresas para pagamentos (e até pré-pagamento) de dívidas no exterior, fenômeno que estaria próximo do fim.

Por outro lado, é crescente o número de empresas brasileiras que tem incluído em seus planos estratégicos a expansão de atividades no exterior, por exemplo, através da aquisição de negócios.

cc2 _1_.png

Além disso, a expansão fiscal americana pode agir contra fatores tendentes a aumentar os fluxos de capital para o Brasil. O financiamento do crescente déficit público americano pode criar uma demanda de recursos nos mercados de capital internacionais. Por ora, o Fed tem financiado o Tesouro indiretamente através da compra agressiva de títulos a mercado.

Contudo a instituição tem avisado que com a retomada econômica esse programa de compras poderá ser reduzido, o que poderá aumentar as taxas de juros de médio e longo prazo e contribuir para o fortalecimento do dólar americano face ao real. Hoje não esperamos que o ajuste da política monetária nos EUA se inicie antes de final de 2022, com altas de juros apenas em 2023, mas esse é um risco a ser monitorado.

Dessa maneira, mantemos nossa expectativa com relação ao dólar ao final de 2021 em R$ 5,50, monitorando a evolução e fatores que poderiam alterá-la.