O processo de vacinação na Europa tem se acelerado nas últimas semanas. Depois de um início marcado por incertezas e ausência de vacinas, os países da Europa continental mostram sinais de melhora no processo de distribuição das doses.

Além disso, novas compras de fornecedores alternativos, além da AstraZeneca/Oxford, diminuem os riscos de falta de oferta. Os gráficos abaixo mostram as taxas de vacinação diárias na Europa continental convergindo para as do Reino Unido, com maior velocidade do que o observado nos últimos meses.

Ainda assim, o Reino Unido tem quase 50% da população vacinada com a primeira dose, enquanto o resto da Europa está chegando ao patamar de 20%. Assim, a abertura econômica na Europa continental ainda deve demorar algumas semanas, mas o sinal para o segundo semestre vai tornando-se mais positivo, dado que o objetivo de vacinar 70% da população adulta até o final de junho parece factível.

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Políticas econômicas expansionistas

Com o atraso na vacinação e o efeito negativo no PIB do primeiro semestre, a possibilidade de normalização da política monetária parece cada vez mais distante, corroborada pela decisão recente do Banco Central Europeu (BCE) de antecipar as compras mensais de títulos.

No lado fiscal, segundo as projeções de consenso da Bloomberg, o déficit nominal da Zona do Euro deve alcançar 6,6% do PIB em 2021, depois de registrar 9,3% no ano passado, e frente a uma média entre 2017 e 2019 de -0,7%.

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Para 2022, a consolidação deverá ser gradual, com uma redução para 4,2%. Além disso, esse ano deve marcar o início dos gastos do Fundo de Recuperação e Resiliência (RRF em inglês), um passo inicial da união fiscal. Esse fundo será financiado por títulos supranacionais e direcionará seus recursos para os países mais afetados pela pandemia (Espanha e Itália). Assim, evita-se a consolidação fiscal acelerada observada após a grande crise financeira de 2009.

Segundo o FMI, novos estímulos fiscais poderiam ter efeitos benéficos na dinâmica de crescimento. Pelas estimativas recentes do FMI, o PIB da Zona do Euro deve crescer em torno de 4,5% em 2021, após uma contração de 6,6% em 2020. Para o ano que vem, a projeção é de uma expansão de 3,9%, trazendo o nível do PIB de volta ao pré-pandemia.

Essa recuperação está ancorada nos programas de sustentação da mão de obra, com garantias e pagamentos do governo de parte ou totalidade da folha salarial das empresas.

No gráfico abaixo, podemos observar que após incluir entre 10% e 25% da força de trabalho em 2020, esses programas foram reduzidos, mas ainda cobrem entre 5% e 15% dessa força. No total, esses benefícios apoiaram 68 milhões de empregos em 2020. Desses, o FMI estima que 15 milhões estejam em risco ao longo de 2021 na ausência de apoio do governo às empresas.

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Recuperação à vista

Em resumo, a Europa deve registrar uma recuperação no segundo semestre, impulsionada pela aceleração na vacinação e apoiada em uma política fiscal expansionista, ainda que bem mais moderada do que nos EUA.

As projeções para crescimento têm sido revisadas para cima recentemente, dado que os indicadores de atividade no primeiro trimestre surpreenderam ao consenso.

Essa dinâmica mostra que as restrições de movimentação na Europa não foram tão impactantes como em 2020. A economia e a sociedade vão se acostumando a funcionar “remotamente”.  A aceleração da vacinação, com menores restrições de oferta, deve levar a uma reabertura da economia com maior estabilidade e ainda protegida por políticas econômicas expansionistas, incluindo com o início de atividade do Fundo de Recuperação e Resiliência.

A recuperação acelerada da economia americana e a redução gradual dos estímulos na China devem servir como apoios adicionais.