As medidas tomadas na véspera das eleições e sua continuidade no ano que vem resultam em um déficit primário do governo central em 2023.

Nosso cenário base fiscal prevê déficit primário de 0,5% do PIB. Esse resultado não é suficiente para estabilizar a dívida, considerando os parâmetros macroeconômicos do nosso cenário base para 2023, tais quais o crescimento de 1,0% do PIB, variação do IPCA de 5,2%, Selic média de 12,6% e taxa média de câmbio de R$/US$ 5,30.

Leia também:
> Fiscal: custo da dívida pública deve crescer em 2023
O esforço fiscal do Reino Unido para garantir crescimento

A estabilização da dívida exigiria, nesse caso, um superávit primário de 3,2% do PIB. Com o déficit de 0,5% do PIB a dívida bruta subirá de 78% do PIB em 2022 para 80% do PIB em 2023.

A dívida bruta do setor público consolidado continuará a subir em 2024. Projetamos um contexto de crescimento do PIB de 1,5% para 2024, com Selic média de 8,0% e variação do IPCA de 3,0%, sem surpresas fiscais.

Nesse cenário, o resultado primário continuará deficitário (-0,5% do PIB) e a dívida bruta subirá para 83% do PIB. A continuidade das medidas pré-eleitorais levará as despesas a excederem o teto de gastos de 2023 em pouco mais de R$ 100 bilhões.

A expansão do Auxílio Brasil responde por 70% do excesso, enquanto a expansão dos gastos de previdência e da assistência social responde por 23 bilhões.

Outros R$ 13 bilhões viriam de transferências para fundos e entidades públicas que podem ser considerados de natureza obrigatória.

Há riscos adicionais ao cenário base. Esses riscos, como o reajuste da tabela do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF), levariam a perdas de receitas de R$ 114 bilhões e gastos adicionais de R$ 180 bilhões no próximo biênio, com impacto de 3,0% do PIB anual.

Nesse cenário, a dívida bruta atingiria 84,3% do PIB em 2024 contra 83,1% do PIB no cenário básico, sem considerar o impacto de aumento dos juros decorrente da deterioração fiscal.

Ao contrário do cenário básico, é provável que esse cenário com expansão fiscal adicional provoque crescente desconforto entre investidores, com impacto também no desempenho da economia.

Confira gráficos sobre o assunto:

fiscal out.png