As recentes altas nos preços dos alimentos vêm ganhando destaque no debate econômico do país. Na última leitura do IPCA-15, por exemplo, o grupo ‘Alimentação e bebidas’ chamou atenção ao subir 1,48% em setembro, bem acima da variação de agosto.

Nesse contexto, o time de Macroeconomia do Safra aponta que há uma grande discussão em curso sobre o repasse da inflação para o varejo, uma vez que os preços ao produtor estão em patamares bastante elevados. Para investigar o tema, o Banco Central, em seu Relatório de Inflação do terceiro trimestre, apresentou um estudo importante na semana passada.

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Como a composição do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), calculado pela FGV, é bastante distinta daquela do IPCA, o BC elaborou índices correspondentes, em que os itens selecionados têm o mesmo peso tanto para o atacado quanto para o varejo.

Com isso, foi possível observar um repasse relativamente rápido dos preços do atacado para o varejo na série histórica. Contudo, nos três meses até agosto, o IPA ajustado pelo BC cresceu 6,41%, enquanto o IPCA também ajustado cresceu apenas 1,93%. Nosso time entende que isso evidencia que o repasse não vem ocorrendo como de costume.

Ainda segundo o estudo do BC, os preços monitorados e os preços ligados à alimentação registram neste ano repasses próximos à média histórica. Na categoria de bens industriais, entretanto, praticamente não houve repasse aos consumidores.

Segundo a instituição, isso ocorre por conta da elevada ociosidade da economia, bem como pela queda dos preços monitorados, que representam parte relevante do custo das cadeias industriais.

A autoridade monetária assim reconhece que há uma pressão latente nos preços dos alimentos do atacado para o varejo. Contudo o repasse da indústria deve ser limitado.

Projeção do Safra

Olhando à frente, nossa equipe de Macroeconomia entende que as próximas leituras do IPCA devem seguir indicando uma dinâmica benigna no núcleo inflacionário, mas com pressão maior do que a esperada anteriormente em alimentos.

Nossa equipe explica que a pandemia trouxe mudanças de hábitos de consumo e o grupo de alimentos foi um dos mais beneficiados com isso. Além disso, com demanda externa elevada, especialmente chinesa, os volumes exportados das principais commodities agrícolas cresceram bastante no ano, aumentando a pressão nos preços domésticos.

Assim, a projeção do Safra para o IPCA em setembro foi revisada de avanço de 0,37% para 0,52%. No ano, nosso time passou a projetar alta de 2,08%, ante 1,96% estimado anteriormente.