Embora já esperasse um crescimento significativo entre julho e setembro, o time de Macroeconomia do Safra se surpreendeu com o forte ritmo de recuperação econômica indicado pelos dados relativos aos últimos meses.

Desse modo, nossos especialistas melhoraram a projeção para o PIB brasileiro em 2020 de uma queda de 5% para um recuo de 4,5%. Entenda a seguir o que motivou a revisão.

Forte recuperação no 3º tri

Nossa equipe estima que, após registrar em agosto o quarto avanço na margem, a produção industrial brasileira deve ter conseguido em setembro uma variação positiva na comparação interanual.

Além disso, as vendas no varejo restrito atingiram o maior patamar da série histórica em agosto e também contam com perspectivas bastante positivas para o resultado de setembro.

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A pesquisa de serviços, por sua vez, também trouxe boas notícias. O setor, que é o mais afetado pela crise do coronavírus e cuja retomada segue a mais incerta,  registrou alta de julho para agosto, apesar de ficar 10% abaixo do nível observado em agosto de 2019.

Dessa forma, nosso time revisou a projeção de crescimento do PIB no 3º trimestre de 6,8% para 8,5%, na comparação com o 2º trimestre. Já na comparação interanual, a estimativa saiu de contração de 5,7% para queda de 4,1%.

Acomodação no 4º tri

Olhando mais à frente, nossos economistas avaliam que os primeiros indicadores de outubro apontam uma possível acomodação da economia, em especial das vendas varejistas.

As prévias das sondagens da FGV mostraram que apenas os índices de confiança da indústria e da construção continuaram em trajetória de expansão, enquanto os índices de confiança do comércio, serviços e do consumidor registraram queda na leitura preliminar.

Além disso, nosso índice diário Safrapay de vendas do comércio varejista indica perda de ímpeto até o dia 12 de outubro na maior parte das categorias varejistas, à exceção dos segmentos de recuperação tardia, como vestuários, cuja expansão ainda está em curso.

No setor de serviços, por outro lado, o índice Safrapay continua a apontar expansão no início de outubro. Essas observações, porém, devem ser tomadas com cuidado, porque são afetadas pelo feriado de 12 de outubro, que tende a favorecer serviços prestados às famílias, mas prejudicar outros serviços, como profissionais e transporte.

Assim, a recuperação mais rápida no 3º trimestre e uma possível acomodação a partir de outubro sugerem um crescimento do PIB no último trimestre de 2020 abaixo do previsto até aqui: a projeção de crescimento saiu de 3,2% para 2,3%, em relação ao 3º trimestre.

Crescimento de 4,5% em 2021

Em relação a 2021, o carregamento estatístico advindo da recuperação na segunda metade de 2020 é significativa, correspondendo a aproximadamente 3,0%.

Os vetores de crescimento em 2020, além da manutenção de parte do impulso da demanda criado pelas injeções fiscais e monetárias ocorridas em 2020, incluem as boas perspectivas para, por exemplo, o setor agropecuário.

Ainda que o PIB desse setor represente apenas aproximadamente 5,0% do PIB nacional, nosso time lembra que seu efeito multiplicador é estimado em 400%.

Nesse contexto, o cenário-base para o PIB em 2021 segue prevendo uma alta de 4,5%, apesar das incertezas fiscais que vêm obscurecendo o horizonte nas últimas semanas.

O crescimento anual de 4,5% em 2021 corresponde a um crescimento trimestral médio de 0,5% ao longo do ano, valor não muito diferente do que foi observado em média entre 2017 e 2019. Nessa projeção, o PIB estará ao final de 2021 um pouco acima do nível observado no último trimestre de 2019.

Nossa equipe ressalta que esses resultados dependem, evidentemente, da velocidade com que o crescimento do PIB virá a se desacelerar, e que um crescimento médio de 0,5% pode corresponder a um crescimento anual abaixo de 4,5% se a desaceleração for maior no início do ano.