Com os juros na mínima histórica após o Banco Central cortar a taxa Selic para 2,25% ao ano, aplicações com potencial de retorno maior ganham ainda mais evidência. Neste cenário, promovemos uma live com analistas da Safra Corretora para falar de algumas oportunidades específicas de ações na Bolsa: em energia elétrica, setor historicamente conhecido por bons pagamentos de dividendos, e em mineração e siderurgia, que apesar de atuarem na mesma cadeia produtiva do aço, foram impactadas de modos distintos na crise.

Mediada pelo estrategista Luis Azevedo, participaram da live os analistas Kaique Vasconcellos, para falar sobre as ações do setor de energia elétrica, e Conrado Vegner, trazendo o olhar sobre as siderúrgicas e mineradoras. Selecionamos os principais pontos da conversa abaixo. No final deste conteúdo, você também pode conferir a transmissão na íntegra.

Ações com dividendos acima da Selic

Uma das principais características das ações do setor de energia elétrica é o histórico de elevados níveis de pagamentos de dividendos. Com a taxa Selic de 2,25% ao ano, nosso analista explica que o investimento no setor está ainda mais atrativo. “São empresas com fluxo de caixa estável e que conseguem manter um fluxo de pagamentos”.

Durante a atual crise, as companhias do setor adiaram os pagamentos de dividendos até o final do ano para manter dinheiro em caixa e fazer frente a eventuais necessidades, mas Vasconcellos lembra que isso é uma medida natural para esse momento e que não deve ocorrer no próximo ano.

Vasconcellos lista três de suas melhores alternativas para investir no setor com foco em dividendos em meio ao cenário de Selic em baixa: Engie Brasil, CPFL Energia e Cesp. As duas primeiras têm um dividend yield estimado em 7,5% para os próximos três anos, e a perspectiva para a Cesp está em aproximadamente 6%. Ele lembra que estes são pagamentos que acontecem todos os anos, em patamares muito superiores à taxa básica de juros. Nesta semana, também conversamos com o presidente da Engie Brasil — clique aqui para relembrar como foi. 

Visão positiva para as ações do setor elétrico

Nosso analista também destacou o perfil defensivo do setor como um todo, proporcionado pelo modelo regulatório. “Essa crise mostrou que não tem espaço para quebrar contrato, é um setor estável e bem organizado, que oferece uma segurança muito grande para o investidor de médio e longo prazo”, disse durante a live.

Uma das principais medidas para o setor foi a criação da Conta-covid, antecipando receitas para as empresas do setor. Esta iniciativa permitiu reforçar a liquidez das empresas em um momento de queda no volume consumido de energia e aumento na inadimplência dos consumidores. “O setor já passou por crises no passado, o que trouxe grande robustez”, afirma.

O setor elétrico possui três grandes ramos de atuação: geração de energia, transmissão de energia e distribuição para os consumidores finais. Vasconcellos explica que as distribuidoras foram as mais impactadas, uma vez que ela é quem atua junto ao consumidor final e tem a função de arrecadar os recursos para repassar ao restante da cadeia. As geradoras, por possuírem contratos bilaterais de longo prazo com as distribuidoras, sofrem menos. As transmissoras são as menos afetadas, uma vez que suas receitas são fixadas em contrato, não sendo impactadas pela volatilidade no volume de energia consumido.

Apesar do impacto inicial nas distribuidoras, Vasconcellos pondera que a Conta-covid soluciona o problema de liquidez e, posteriormente, haverá uma discussão em relação ao reequilíbrio econômico-tarifário do setor no segundo semestre, promovendo um cenário de recuperação de parte das perdas deste início de ano. Tendo isto em vista, além das ações com foco em dividendos citadas acima, o analista afirma que também há uma recomendação forte para investimentos em distribuidoras, sendo suas preferidas as ações da Energisa, CPFL, Equatorial Energia e Neoenergia.

Privatização da Eletrobras projetada para 2021

Outro grande tema do setor elétrico é a privatização da Eletrobras. O cenário-base do nosso analista é que a privatização aconteça no próximo ano. O processo, no entanto, não será fácil. A proposta deve ser aprovada pelo Congresso, podendo gerar volatilidade para as ações no curto prazo. “Mas, no médio e no longo prazo, vemos retorno positivo”, diz.

Já foi definido o modelo de privatização proposto, em uma capitalização via mercado de capitais, que não será acompanhada pelo Governo, diluindo sua participação. Para o analista, este é o melhor modelo a ser proposto, uma vez que traz novos investidores e a transforma em uma “corporation”, ou seja, sem um acionista controlador. “É uma empresa que tem grandes drivers de valorização se for privatizada”, afirma.

Siderurgia e Mineração

Os setores de siderurgia e mineração, embora parte da mesma cadeia produtiva do aço, são influenciadas por fatores distintos.

Nosso analista Conrado Vegner explica que as mineradoras têm como principal mercado consumidor a China, que manteve sua produção de aço mesmo durante a pandemia. Combinado com restrições de exportações no Brasil e na Austrália no início do ano, e receios em torno da crise do coronavírus, os preços do minério de ferro se mantiveram em alta, atualmente superando os níveis de preço observados no começo do ano.

Já a siderurgia possui uma correlação maior com a atividade econômica doméstica. Dentro do setor, o analista destaca dois grandes segmentos: a produção de aços longos, usados principalmente na construção civil, que manteve o ritmo durante a crise, e a produção de aços planos, utilizados principalmente pela indústria automobilística e linhas brancas, segmentos que sofreram paradas mais intensas durante a crise.

Em um cenário de retomada da economia, ambos os setores possuem perspectivas positivas. Vegner destaca como suas ações preferidas, em ordem de preferência, as ações da mineradora Vale e das siderúrgicas Gerdau, CSN e Usiminas. Abaixo, reunimos um breve racional para o investimento nestes papéis apresentado pelo analista durante a live:

Vale: a empresa se beneficia do momento favorável para o minério de ferro, com um atrativo adicional da perspectiva de retomada nos pagamentos de dividendos. “É uma empresa boa geradora de caixa, que não tem nenhum grande projeto de investimento, então a intenção é retomar os pagamentos de dividendos assim que as incertezas dos impactos da Covid sobre a mineração se dissiparem”, afirma. Nosso analista estima um retorno de 7% em dividendos ao ano em um primeiro momento, e de 6% em um prazo mais longo.

Gerdau: esta é a ação preferida do setor siderúrgico por atuar principalmente com aços longos, utilizados na construção civil. Ela também possui exposição ao mercado dos Estados Unidos, que tende a se recuperar mais rapidamente que o brasileiro.

CSN: apesar de ser essencialmente uma siderúrgica, parte importante dos resultados são gerados por suas atividades de mineração. Deste modo, o preço do minério de ferro em alta ajuda a mitigar a queda na demanda por aços planos, seu principal produto na siderurgia. Esta é a empresa mais endividada do setor siderúrgico, mas nosso analista descarta qualquer preocupação neste sentido para o curto ou o médio prazo.

Usiminas: o setor automobilístico é um cliente importante da empresa, fazendo com que ela seja a siderúrgica de nossa cobertura mais impactada na crise. No entanto, em um cenário de recuperação da economia, a empresa possui capacidade para gerar resultado de modo bastante rápido.

Vale mencionar, também, que outro modo de se expor às ações da Vale é por meio da Bradespar, que possui participação relevante na mineradora. As ações da Bradespar estão sendo negociadas com um desconto em relação aos papéis da Vale maior do que o observado historicamente, gerando um potencial de ganho maior.

Estes são setores que apresentam alguns riscos. Entre eles, estão uma eventual segunda onda de contaminações na China, restrições de produção no Brasil ou retomada lenta da economia doméstica, uma eventual retomada de um projeto de lei que prevê o aumento na tributação dos lucros das mineradoras e o risco ambiental, que é inerente à atividade.

Ainda assim, segundo o analista, “vemos que o pior para o setor de siderurgia e mineração parece já ter ficado para trás”. Para as siderúrgicas, mais afetadas durante a crise, o analista comentou que as fortes quedas nas vendas de abril não devem se repetir no mesmo patamar ao olhar para frente. E, caso a recuperação da economia seja mais rápida do que se espera, este “seria um cenário altamente favorável para as siderúrgicas”.

Abaixo, você pode conferir a conversa na íntegra novamente.