O pior da crise já passou para a Movida. Essa é a visão do CEO da companhia, Renato Franklin, embora ele considere que o cenário continue bastante difícil do ponto de vista macroeconômico. O executivo conversou com o Safra em live apresentada em nosso canal no YouTube nesta sexta-feira.

A companhia atua principalmente no aluguel de carros para pessoas físicas e na venda de veículos seminovos. Ela divulgou seus resultados do primeiro trimestre nesta semana, com um lucro líquido ajustado de R$ 55,1 milhões, crescimento de 31,2% sobre o mesmo período do ano anterior.

Esse valor foi ajustado para desconsiderar os efeitos da Covid-19 no balanço. Sem esses ajustes, o período teria sido marcado por um prejuízo de R$ 114,4 milhões. No entanto, os analistas da nossa Corretora avaliam que os números foram positivos, com crescimento de receita em todas as divisões e a queda na taxa de juros impulsionando o retorno.

As ações da empresa, depois de subir mais de 120% no ano passado, acumulam perdas em torno de 50% neste ano. Com perspectiva positiva na visão dos nossos analistas, os papéis fazem parte da carteira recomendada de ações da nossa corretora para este mês.

Confira, abaixo, os principais temas abordados na live com o CEO Renato Franklin.

O pior já passou?

O cenário macroeconômico ainda é muito desafiador para todo o ano, com aumento no desemprego e perda na capacidade de pagamento. No entanto, para a empresa, o ambiente microeconômico é diferente. “Para o nosso negócio de aluguel de carro, o pior já passou”, afirma, citando o momento de preço e volume.“Quando a retomada vier, é uma retomada gradual, trazendo novas demandas que vão complementar o portfólio de serviços que a gente já tinha”, explica. “A aceleração da transformação cultural vai trazer uma demanda grande para a gente poder explorar com retornos bastante atrativos.”

Como pano de fundo para a demanda de aluguel de carro, Franklin citou alguns fatores durante a live. Entre eles, a tendência ao compartilhamento de veículos entre diferentes usuários e pessoas que nunca experimentaram o aluguel de carro passando a entrar nesse mercado ao trocar transporte público e aplicativos de transporte pelo aluguel de carro.

Além disso, no curto prazo, ocorrem situações nas quais os clientes vendem seus carros para gerar caixa, bem como há sinais de um movimento de viagens para cidades e regiões próximas com veículos alugados em vez de viagens longas ou internacionais.

Antecipando números de abril

Para reforçar a tese de resiliência, a Movida antecipou nesta semana alguns números operacionais de abril, mostrando uma queda de 35% na receita de serviços prestados pela empresa na comparação com a média mensal do primeiro trimestre.

Na live, o CEO explicou que esse é um modo de mostrar para o investidor estrangeiro que o modelo de negócio no Brasil é diferente do modelo internacional. Imaginava-se que o impacto no negócio poderia chegar a 80%.

A companhia vendeu 3.501 carros em abril, contra uma média mensal de 4.709 veículos no primeiro trimestre. Esse número foi possível pela estratégia de baixar o preço do aluguel de carro em abril para minimizar as devoluções. Maio já apresenta um cenário melhor para a companhia, com retomada de preço.

Transformações na crise

Franklin explica que o negócio principal da Movida é alugar carro, mas que é necessário vender veículos para gerar caixa e renovar a frota. Ele conta que a empresa tinha um sonho de conseguir vender carros com um processo 100% online, e que esse projeto foi antecipado por conta do fechamento de lojas como medida de segurança para o combate ao novo coronavírus.

Segundo o CEO, a empresa implementou um modelo de atendimento online eficiente, automatizou processos e implementou a entrega do veículo na casa do cliente. “A necessidade de abrir loja não é tão do mesmo tamanho quanto era antes”, afirma.

Ainda distante da normalidade

Franklin reconhece que é muito difícil estimar quando a demanda retornará a níveis normais e que, no momento, ainda não é possível enxergar o fim da crise. “Para a gente ver um volume normal ainda nesse ano, só se a gente tivesse algo extraordinário do ponto de vista de cura para dar tranquilidade para a população e os governos”.

Para o CEO, a demanda deve retornar somente no próximo ano. “No curto prazo, é uma empresa menor, mas ajustando seu custo para estar no final do ano com um novo patamar de margem, para poder voltar ao plano de negócio, do ponto de vista de rentabilidade, mais rápido”, explica.

Nesse sentido, o executivo afirma que a empresa possui caixa suficiente para realizar investimentos, mas a demanda atual não justifica esse volume, que deverá ocorrer à medida que houver uma recuperação na economia.

Preocupações dos investidores respondidas

Quando perguntado quais são as maiores preocupações que os investidores costumam demonstrar no momento atual, Franklin explicou que a principal delas é com relação a caixa e liquidez. “Infelizmente, vamos ver em um cenário como esse várias empresas não conseguindo atravessar a crise”, diz.

Ao comentar sobre a Movida, o executivo explica que a companhia possui a menor alavancagem do setor, com um caixa de R$ 1 bilhão e dívidas com prazos alongados. Desse modo, é minimizado um problema que pode ocorrer em muitas empresas: o descolamento entre dívidas a pagar e a geração de receitas. O executivo afirma que a Movida “está muito tranquila” do ponto de vista de caixa para passar pelo ano.

Uma segunda preocupação que os investidores costumam demonstrar é sobre títulos de dívida, que muitas vezes possuem regras que as empresas devem seguir na relação entre dívida líquida e geração de caixa. Com a deterioração nos resultados, muitas delas podem acabar descumprindo essa regra. Mas, no caso da Movida, a empresa está dentro dos limites pactuados com os investidores e está pronta para financiar um novo ciclo de crescimento, quando houver a retomada.

Confira, abaixo, a conversa na íntegra.