Uma nova escalada nas tensões entre Estados Unidos e China, em disputa que tem sido chamada de Guerra Fria 2.0, adicionou um tom de cautela a uma semana que começou com boas novidades sobre o desenvolvimento de vacinas contra o novo coronavírus. Em meio a esses desdobramentos, ainda tivemos avanços na agenda de reformas e discussões sobre pacotes de estímulos no exterior.

Ao colocar todos os assuntos na balança, o resultado final para a bolsa brasileira foi de pouca oscilação: leve queda de 0,49% para o Ibovespa na semana, aos 102.382 pontos, sendo que chegou a superar os 105 mil pontos no início da semana. Já o dólar segue com mais volatilidade, e encerrou a semana em baixa acumulada de 3,28%, cotado aos R$ 5,20.

'Guerra fria 2.0'

China e Estados Unidos vêm protagonizando uma série de conflitos desde 2018, marcadamente no campo da guerra comercial. Neste ano, no entanto, a crise do novo coronavírus adicionou novos capítulos a essa relação entre as duas maiores economias do mundo.

Na terça-feira, os americanos acusaram hackers chineses de roubarem informações sobre projetos de vacinas contra o novo coronavírus. E, no dia seguinte, o governo de Donald Trump determinou o fechamento do consulado chinês em Houston, no Texas, sob a justificativa de proteção à propriedade intelectual. Em resposta, o governo chinês ordenou nesta sexta-feira o fechamento do consulado americano em Chengdu. Em comunicado, o ministério chinês acusa os americanos de terem prejudicado gravemente as relações entre os países.

Corrida pelas vacinas

A semana havia começado, no entanto, com tom de otimismo quanto ao controle da pandemia. Isso porque os três principais estudos de vacinas contra o novo coronavírus apresentaram resultados positivos em testes preliminares, atestando que as vacinas são seguras e que estimularam a produção de mecanismos de defesa no organismo. Agora, é preciso comprovar a eficácia delas.

Alguns dos principais estudos que têm chamado as atenções dos mercados estão sendo conduzidos pela Universidade de Oxford/ AstraZeneca, pela Pfizer/BioNTech e pela Sinovac/Biotech.   

Reforma tributária

No noticiário brasileiro, destaque para o andamento da agenda de reformas. Na terça-feira, o ministro da Economia, Paulo Guedes, entregou ao Congresso a primeira parte da proposta de reforma tributária.

A ideia é substituir os PIS e o Cofins por um tributo único, a uma alíquota de 12%, que seria chamada de Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS).

Ao todo, a reforma deve ter quatro etapas, sendo que todas devem ser entregues dentro de um mês. Elas devem tratar de temas como a simplificação do IPI, alterações no Imposto de Renda sobre  Pessoa Jurídica e tributação sobre dividendos, e a criação de uma nova CPMF. Este último tema, no entanto, enfrenta resistência do Congresso.

Nosso time de Macroeconomia também lembrou que há duas propostas de reforma tributária em tramitação, uma na Câmara (PEC 45/2019) e outra no Senado (PEC 110/2019). A tendência é que a proposta do Governo seja acoplada a elas, e que as discussões sobre o tema se estendam neste segundo semestre.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, também voltou a cobrar do governo o envio da proposta de reforma administrativa.

Inflação em revisão

Na sexta-feira, o IBGE divuglou o IPCA-15, indicador conhecido como uma prévia da inflação oficial, uma vez que ele adota a mesma metodologia do IPCA, alterando apenas a data de coleta das informações.

O indicador mostrou uma inflação de 0,30%, abaixo do esperado tanto pelo nosso time de Macroeconomia quanto pelo mercado. “Ainda vamos calibrar nossas projeções depois da divulgação de hoje, mas já adiantamos o viés de baixa para a projeção de 0,48% em julho e 1,7% no ano”, escrevem os nossos especialistas em relatório.

Trilhões em ajuda no exterior

Na terça-feira, os líderes da União Europeia chegaram a um acordo sobre um pacote financeiro sem precedentes. Depois de quatro dias de reuniões, foi aprovada uma ajuda financeira de € 750 bilhões para combater os impactos da crise. Ao mesmo tempo, os líderes concordaram com um Orçamento de € 1,1 trilhão para os próximos sete anos. Desse modo, o valor total das duas iniciativas soma € 1,8 trilhão, algo sem precedentes no continente europeu.

Enquanto isso, os mercados ficam na expectativa por um pacote americano. Nesta semana, houve certa decepção com a falta de novidades sobre o tema, uma vez que havia a perspectiva de o líder republicano no Senado, Mitch McConnel, anunciar novidades na quinta-feira. No entanto, ele declarou que ainda era necessário ajustes finos e que não deveria haver algum anúncio até a próxima semana.

Segundo veiculado na imprensa internacional, o pacote de estímulo americano deve somar algo em torno de US$ 1 trilhão. Na quinta-feira, dados do Departamento de Trabalho americano revelaram que os pedidos de seguro-desemprego subiram pela primeira vez desde março, o que foi visto como um ponto de atenção sobre a recuperação econômica.

Em maio deste ano os americanos já haviam aprovado outro pacote de ajuda, naquela ocasião de US$ 3 trilhões.

Nova projeção de Bolsa

Logo no início da semana, o time de análise da Safra Corretora atualizou as projeções para a Bolsa. Incorporando um cenário de menor aversão a risco, o preço-alvo para o Ibovespa até o final do ano foi atualizado para 112 mil pontos. Você pode conferir mais detalhes desta análise clicando aqui.