A bolsa brasileira vem de um forte movimento de recuperação nos últimos meses. E, segundo os analistas da Safra Corretora, há espaço para mais ganhos. O preço-alvo para o Ibovespa, o principal índice de ações da bolsa brasileira, foi ajustado nesta segunda-feira de 97 mil pontos para 112 mil pontos ao final de 2020. Na sexta-feira, o Ibovespa havia encerrado o dia levemente abaixo dos 103 mil pontos.

“Realizamos um ajuste fino em nosso modelo, reduzindo o risco, e, assim, atualizamos nossa projeção para o Ibovespa”, explicam os analistas Luis Azevedo, Cauê Pinheiro e Silvio Dória, em relatório.

Eles complementam que esta visão marginalmente mais otimista se baseia na perspectiva de que o pior da crise tenha ficado para trás, com a manutenção de uma recuperação gradual da economia, continuidade das reformas estruturais e juros em níveis estimulativos para a atividade, o que também está motivando a realocação de parte dos recursos para renda variável.

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Queda na percepção de risco

Há alguns modos de avaliar a percepção de risco no mercado. Os mais comuns deles são pelos rendimentos de títulos do governo, uma vez que quanto maior a percepção de risco, maior é a taxa exigida pelos investidores, ou pelas taxas do CDS, que é a sigla para Credit Default Swap, um título que, na prática, funciona como um seguro contra calotes.

Em ambos os casos, é possível observar uma forte alta entre fevereiro e março (ver imagens abaixo), seguida por uma queda nos meses seguintes. Nossos analistas ponderam, no entanto, que no caso do CDS, ele ainda está “distante dos níveis vistos no período pré-pandemia, colocando na conta a necessidade de um ajuste fiscal muito maior e que faça frente aos recentes gastos do governo para evitar maiores efeitos negativos da crise que estamos vivendo sobre a economia”.

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Bolsa barata no curto prazo

“Com a melhora da percepção de risco, dada a expectativa de recuperação da atividade econômica e a continuidade da agenda reformista, entendemos que o juro real pode se consolidar num patamar mais baixo, o que gera condição positiva para o investimento em renda variável”, escrevem os analistas da Safra Corretora.

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Deste modo, eles calculam que o prêmio de risco do mercado pode ser menor do que era imaginado anteriormente. Esta alteração traz impactos nos múltiplos, que são indicadores para avaliar se os ativos estão baratos ou caros. “A bolsa parece estar barata num horizonte de curto prazo utilizando como referência a curva de juros”, afirma a equipe de análise da Safra Corretora.

Ao considerar uma análise entre preço e lucro estimado para 2021, por exemplo, “percebemos que o Ibovespa já apresentou uma reprecificação em termos de múltiplos, porém entendemos que ainda há espaço para a continuidade deste movimento”.

Migração da renda fixa para a Bolsa

Com as taxas de juros em patamares historicamente baixos, temos observado um movimento de migração da renda fixa para a renda variável. Segundo nossos analistas, devemos continuar observando fluxo local para a bolsa, o que “ pode favorecer o desempenho do mercado acionário”.

Na avaliação dos nossos especialistas, “a base de ações ainda é pequena no portfólio das pessoas, assim como para os fundos”. De acordo com dados da B3, citados no relatório da Safra Corretora, até o mês de junho houve um crescimento de 57% no número de investidores pessoa física na Bolsa (acréscimo de 968 mil investidores contra dezembro de 2019).

Um movimento parecido foi visto na indústria de fundos, com crescimento de fundos de ações e fundos multimercados em detrimento dos fundos de renda fixa. “Segundo dados da Anbima, investimentos em ações representam 8% do patrimônio líquido total investido no mercado de capitais dos fundos de investimento, o que representa um bom crescimento em relação aos últimos anos (anos de crise), mas ainda muito aquém de níveis como de períodos anteriores”, escrevem nossos analistas em relatório.

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Riscos à tese de investimento

Toda decisão de investimento embute algum tipo de risco. No caso da projeção para a Bolsa, os principais fatores citados pelos analistas para ter no radar são uma eventual recuperação mais vagarosa da economia global e da economia brasileira, uma deterioração fiscal adicional do Brasil, acompanhada por aumento de impostos decorrente da reforma tributária, um aumento na curva de juros e uma piora no ambiente político