O principal índice de ações da Bolsa brasileira, o Ibovespa, está muito próximo de zerar as perdas registradas neste ano, que no momento mais agudo da crise do novo coronavírus chegou a cair quase à metade de sua pontuação, em março. E o que esperar daqui pra frente, para a Bolsa em 2021?

O time de análise da Safra Corretora atualizou as estimativas, e agora passa a projetar o Ibovespa aos 131 mil pontos no próximo ano.

Em relatório assinado por Luis Azevedo, Cauê Pinheiro e Silvio Dória, nossa equipe de análise reforça que a visão para a Bolsa é otimista. Esta avaliação tem como base a proximidade de uma vacina viável contra a Covid-19, que deve colocar um fim à pandemia e a seus efeitos negativos na economia em meados do ano que vem.

Saiba mais:
Safra Report: Como montar uma carteira de investimentos em dezembro
Carteiras de dezembro: Onde investir em ações, dividendos, BDRs e FIIs
Primeiros Passos: Aprenda o que esperar da renda variável

A perspectiva de um crescimento mundial mais forte impulsionando os preços das commodities, a continuidade da agenda reformista do governo – com o andamento de privatizações, reforma administrativa, reforma tributária, BR do Mar e licitações em infraestrutura – e o respeito ao Teto de Gastos são outros elementos que, na visão dos nossos especialistas, devem permitir uma aceleração do crescimento olhando para frente.

O cenário de manutenção dos juros em patamares historicamente baixos também deve continuar promovendo a migração de recursos da renda fixa para renda variável, impulsionada principalmente por investidores pessoa física.

No cenário internacional, nossos analistas pontuam que a eleição do candidato democrata Joe Biden para a presidência dos Estados Unidos tende a gerar uma política externa menos volátil, o que deve se refletir em um melhor ambiente de negócios, principalmente para os países emergentes.

Este cenário favorece os preços das commodities, avaliam os especialistas. O minério de ferro já está no valor máximo em cinco anos. O petróleo continua abaixo de suas máximas de 2018, mas vem de forte recuperação no último mês.

O retorno dos estrangeiros à Bolsa

Os últimos meses também foram de retorno dos investidores estrangeiros à Bolsa. O fluxo acumulado no ano ainda é negativo, com saída de R$ 51 bilhões, mas apenas em novembro foram registradas entradas de R$ 33,9 bilhões por meio de investidores estrangeiros, desconsiderando operações como IPOs e follow-ons.

Nossos especialistas acreditam que cinco fatores devem continuar incentivando o retorno dos estrangeiros ao mercado brasileiro:

  1. Estamos entrando num período de recuperação de atividade econômica, o que deve gerar resultados crescentes para as empresas nos próximos anos;
  2. O cenário externo que se configura tende a dar suporte ao preço das commodities;
  3. Esperamos a retomada e posterior manutenção do equilíbrio fiscal passada a pandemia;
  4. Possibilidade de estabilização do real (estimamos o dólar em R $5,35 em 2020 e R$ 5,45 em 2021;
  5. O Ibovespa em dólar está bem distante da máxima atingida em maio de 2008 (cerca de 50% abaixo), deixando ainda um bom espaço para recuperação.

Quanto a este último ponto, se os 131 mil pontos marcam uma pontuação recorde para o Ibovespa, o gráfico abaixo mostra como o principal índice de ações do mercado ainda está abaixo de seus níveis históricos para os estrangeiros.

ibovespa-em-dolar.png

Redução do risco

A crise deste ano também se refletiu no aumento das principais métricas de risco para o mercado. Há alguns modos diferentes de se medir o risco. Uma delas é por meio dos CDS, contratos conhecidos no mercado como uma espécie de seguro contra calote.

Outro modo de se analisar o risco é por meio dos títulos públicos emitidos pelo governo – quanto maior a insegurança, maior é o rendimento exigido pelos investidores.

A perspectiva de que o pior da crise já passou se reflete nessas duas métricas: tanto no rendimento do Tesouro IPCA+ com juros semestrais para 2050, quanto pelo CDS de cinco anos. As curvas desses mercados, no entanto, ainda estão distantes dos níveis vistos antes da pandemia, o que embute no preço a necessidade de um ajuste fiscal significativo que coloque a dívida pública em trajetória de queda.

risco-mercado-em-queda.png

Resultados das empresas surpreendem

O Ibovespa é formado por empresas. E os resultados delas diante da pandemia surpreenderam. Levantamento do nosso time de análise identificou que 52% dos resultados do terceiro trimestre vieram acima das expectativas, enquanto 13% foram conforme esperado e 35% decepcionaram as projeções.

Esses são números melhores do que no segundo trimestre, o período mais agudo da crise, quando 42,5% dos balanços corporativos surpreenderam positivamente, 17,8% vieram em linha com o esperado e 39,7% decepcionaram.

Os analistas da nossa Corretora explicam que a surpresa positiva evidencia a recuperação mais rápida que as empresas estão imprimindo, gerando como consequência um ajuste para cima nas projeções dos resultados futuros.

Rotação de portfólios

Novembro também marcou um período forte de rotação de portfólios entre ações de crescimento para ações de valor, como os setores de Petróleo e Gás, Siderurgia e Mineração, Shoppings, Construção e Serviços financeiros liderando as altas recentes.

Esses setores, exceto siderurgia e mineração, ainda negociam em queda no acumulado do ano, pois também foram os mais afetados pelos efeitos das medidas de distanciamento social para enfrentamento da pandemia do Covid-19.

Em um cenário de imunidade para a população, com a chegada de uma vacina, e a volta à normalidade da atividade econômica mundial, nossos analistas acreditam que podemos observar a continuidade desse movimento visto no último mês. Os setores de Serviços Financeiros e de commodities são vistos como os principais beneficiários desse movimento.

Riscos para a projeção

Toda projeção de investimento envolve riscos.

Para esta projeção do Ibovespa, os principais riscos apontados pela nossa equipe de análise são uma recuperação mais vagarosa da economia global, que pode ocorrer devido ao reflexo de novas ondas de infecção do novo coronavírus ou pela deterioração de disputas comerciais, a deterioração fiscal adicional do país, um eventual aumento de impostos decorrente da reforma tributária (dada a fragilidade fiscal atual), um aumento da curva de juros, uma menor taxa de crescimento da economia brasileira, uma piora no ambiente político e o atraso na chegada de uma vacina.