O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) surpreendeu ontem à noite ao mudar o tom em relação às perspectivas para a taxa Selic nas próximas reuniões. A surpresa não está no teor do comunicado, mas em seu timing.

O Copom adotou neste segundo semestre uma ferramenta conhecida como prescrição futura (“forward guidance”, como é também conhecido no mercado), ou seja, a sinalização de que os juros serão mantidos no patamar atual por um período prolongado.

Nesta reunião de dezembro, a última do ano, o Banco Central sinalizou pela primeira vez que essa prescrição futura pode estar chegando ao fim, uma vez que as condições para a sua manutenção podem não ser mais satisfeitas.

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No comunicado, o Banco Central afirma o seguinte: “O Copom avalia que, desde a adoção do forward guidance, observou-se uma reversão da tendência de queda das expectativas de inflação em relação às metas para o horizonte relevante. Além disso, ao longo dos próximos meses, o ano-calendário de 2021 perderá relevância em detrimento ao de 2022, que está com projeções e expectativas de inflação em torno da meta.”

O texto continua, ainda, explicando que “a manutenção desse cenário de convergência da inflação sugere que, em breve, as condições para a manutenção do forward guidance podem não mais ser satisfeitas, o que não implica mecanicamente uma elevação da taxa de juros pois a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo extraordinariamente elevado frente às incertezas quanto à evolução da atividade”.

Projeção Safra

Para o nosso time de Macroeconomia, este comunicado abre a possibilidade para a retirada da sinalização quanto à manutenção dos juros baixos por um período prolongado nas reuniões de 19 e 20 de janeiro.

Na avaliação dos nossos especialistas, no entanto, a trajetória projetada de uma inflação mais benigna no começo do ano deve postergar essa mudança na comunicação para março.

A inflação bastante baixa em janeiro pode ocorrer caso as condições hídricas permitam o retorno à bandeira amarela na conta de energia já no começo do ano, se a cobrança do reajuste de planos de saúde de 2020 for diluída entre os meses de 2021, e se for confirmada que a descompressão que está se verificando do preço de alimentos no atacado será mais cedo que o esperado.

Deste modo, mantemos a projeção de que a elevação da taxa Selic deve ocorrer a partir de agosto de 2021, com a taxa de juros encerrando o ano em 3%.