Apesar de o IPCA de janeiro ter vindo abaixo do esperado pelo mercado – alta de 0,25% sobre dezembro, contra nossa projeção de 0,30% e a projeção da mediana do mercado em 0,31% –, o cenário de inflação apresenta pressões altistas principalmente no curto prazo, com foco no primeiro trimestre.

Em particular, os preços dos serviços subjacentes continuam subindo mais do que o compatível com a meta de 2021, e a inflação dos bens industriais acelerou.

A alta de preços na segunda metade do ano passado não vem sendo compensada por uma rápida aceleração dos preços em 2021, e tem se traduzido em um IPCA acumulado em 12 meses que alcançou 4,57% em janeiro e deverá continuar subindo até 6,7% no meio do ano.

Assim, a despeito da surpresa positiva no IPCA cheio de janeiro, a divulgação da semana passada não deve trazer conforto para o Banco Central.

Revisão na inflação

A projeção da inflação de fevereiro sofreu revisões altistas, que podem se estender por março, o que nos levou a revisar a inflação do trimestre de 1,0% para 1,3%.

A confirmação da bandeira tarifária amarela de energia elétrica em fevereiro adicionou 10 pontos base na nossa projeção para o mês, sendo que a mudança para bandeira verde pode não se dar sequer em março, o que impactaria nossa projeção para o mês que vem também.

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Outra pressão altista adveio de combustíveis derivados de petróleo. A Petrobras reajustou o preço da gasolina em 8% no dia 8 de fevereiro – acima do que prevíamos em face da defasagem que vinha sendo identificada entre preços domésticos e externos. No momento, não prevemos outro aumento no trimestre.

Por ora, seguimos projetando o IPCA de 2021 em 3,40%, contando com a atenuação ou reversão de alguns dos processos altistas.

O que acompanhar no IPCA

No caso das tarifas de eletricidade, mesmo que a bandeira não volte para verde nos próximos meses, a inflação do ano não deve ser afetada, porque já prevíamos que a bandeira em dezembro seria amarela.

No caso da gasolina, consideramos os recentes aumentos como antecipações de elevações que se dariam quando o preço do Brent chegasse a $60/barril, o que acabou por se dar agora.

Não projetamos, por enquanto um Brent acima de $65/barril, e há uma possibilidade de alívio na medida em que o câmbio se aprecie até R$5,00/US$ até o final do ano.

Finalmente, os preços da alimentação no domicílio, que seguem pressionados no primeiro trimestre, devem cair no meio do ano, de acordo com sazonalidade desse grupo de itens de consumo.

Também esperamos que as médias de núcleos e medidas subjacentes comecem a desacelerar a partir do mês de fevereiro, mantendo-se os primeiros em 2,8% (valor próximo ao observado em 2020), enquanto os serviços subjacentes aceleram de 2,6% para 3,1% entre 2020 e 2021.

Não obstante a atenuação projetada para a inflação nos próximos meses é importante monitorar as consequências de choques inesperados tais como a piora de condições sanitárias dos rebanhos suínos na China, cuja diminuição de tamanho começa a impactar os preços da cadeia proteica.

Próxima reunião do Copom

A próxima decisão do Copom se dará em 17 de março. Projetamos que nesta data deve se iniciar a normalização da política monetária, com aumento de 0,25 ponto percentual na Selic, levando a taxa de 2% ao ano para 2,25% ao ano.

Há motivos importantes para o Copom aumentar os juros já em março, apesar da incerteza a respeito de vários fatores importantes para as decisões.

Entre os fatores contribuindo para um aumento da Selic estão:

  • os juros reais negativos diante de uma inflação mensal próxima a 0,4% ao mês;
  • a possibilidade de aumento de gasto fiscal por conta do auxílio emergencial;
  • e a possível aceleração da economia americana com implicações para as taxas de juros de longo e curto prazo naquele país, apesar das palavras tranquilizadoras do presidente do banco central americano, o Fed, recentemente.

Uma antecipação do primeiro aumento da Selic pode facilitar a resposta do Brasil a um eventual aperto das condições financeiras globais.

Pode ser vantajoso já deixar a economia brasileira mais preparada para uma evolução mais rápida das condições dos EUA. Até porque é difícil estar seguro de que o apoio à retomada econômica proporcionada por uma taxa real de -2% seja tão maior do que aquele que possa ser proporcionado por uma taxa real de 0%.

A fragilidade da recuperação do emprego no Brasil e a persistência da pandemia não podem ser descartadas, apesar do início das vacinações em janeiro, com quase 4,5 milhões de pessoas já vacinas, reflexo de uma média de vacinações diárias excedendo 200.000 pessoas.

Com isso, o Banco Central pode se sentir confortável em começar a normalizar as taxas de juros reais de curto prazo, trazendo a Selic até 3,75% até o começo do quarto trimestre, como projetamos atualmente.