O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) anuncia sua primeira decisão de 2021 para a taxa Selic nesta quarta-feira, 20 de janeiro. O consenso de mercado projeta a manutenção da taxa básica de juros no patamar de 2% ao ano, mas as atenções devem se voltar para a linguagem adotada na comunicação do BC.

Para o nosso time de Macroeconomia, a prescrição futura, também conhecida no mercado como “forward guidance”, não deve se encerrar nesta reunião. A prescrição futura é uma linguagem adotada no comunicado da decisão que projeta a manutenção dos juros no atual patamar.

As incertezas quanto à continuidade da prescrição futura cresceram no mercado após a reunião de dezembro, quando o Copom escreveu que “desde a adoção do forward guidance, observou-se uma reversão da tendência de queda das expectativas de inflação em relação às metas para o horizonte relevante”, complementando que “ao longo dos próximos meses, o ano-calendário de 2021 perderá relevância em detrimento ao de 2022, que está com projeções e expectativas de inflação em torno da meta”. O comunicado ainda afirmou que “a manutenção desse cenário de convergência da inflação sugere que, em breve, as condições para a manutenção do forward guidance podem não mais ser satisfeitas”.

Prescrição futura

Para nossos especialistas, apesar da atividade estar mais forte do que antecipado e 2020 ter fechado com uma inflação acima da meta, os condicionantes estabelecidos pelo Banco Central para o fim da prescrição futura ainda não foram formalmente verificados.

A expectativa de inflação para 2021 do nosso time de Macroeconomia subiu 0,1 ponto percentual desde a última decisão do Copom, e as expectativas para a inflação nos modelos do BC, segundo simulações dos nossos especialistas, poderão subir até mais, em 0,15 ponto percentual em relação a dezembro.

Mesmo neste cenário, no entanto, a inflação de 2021 estaria abaixo da meta de 3,75%. Além disso, o Banco Central vem dando cada vez mais ênfase a 2022. Nesse horizonte, a expectativa de inflação não se alterou e continua abaixo da meta de 3,5%, de acordo com nosso time.

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Nossos especialistas ainda complementam que, se houve novidades no quesito fiscal desde dezembro, elas terão sido positivas, com menor relação dívida/PIB para 2020 e pouca sinalização de apetite por parte do governo ou do Congresso de fugir do atual regime fiscal baseado no teto dos gastos federais.

Apesar dos fatores acima, e da inconveniência de o Banco Central retirar uma sinalização do “trade off” monetário-fiscal se a prescrição futura for encerrada em janeiro, nossos especialistas afirmam que não há dúvida que o objetivo fundamental dessa ferramenta de comunicação, lançada em um momento no qual a incerteza sobre a economia era máxima, foi em grande parte alcançado.

A prescrição futura, explicam nossos especialistas, foi implementada para dar confiança ao mercado quando os indicadores econômicos estavam muito frágeis, e os riscos de se sinalizar quedas futuras dos juros eram assimétricos, podendo, por exemplo, causar instabilidade nos preços de alguns ativos.

Com a recuperação econômica bem adiantada na esteira do extraordinário impulso fiscal proporcionado à demanda interna pelo auxílio emergencial, é natural que o Banco Central aponte cada vez mais para a normalização da política monetária.

Normalização à qual a autoridade monetária tem sido enfática em afirmar que não significa automaticamente aumentos de juros, ao menos imediatamente. A avaliação mais subjetiva quanto à prescrição futura poderia, assim, levar o Banco Central a encerrá-la em janeiro, e não na reunião de março, quando o quadro fiscal e os efeitos mais ou menos contracionistas do fim do auxílio emergencial na demanda agregada estarão mais claros.

Alta dos juros

Quanto à taxa Selic, a projeção da nossa equipe de Macroeconomia permanece de que ela começará aumentar em meados do ano, alcançando 3,00% ao ano ao final de 2021.

Na ata da última reunião do Copom foi esclarecido que “o Comitê decidiu adicionar à sua comunicação que, embora haja a possibilidade de o forward guidance ser retirado em breve, isso não implicaria mecanicamente em aumento de juros”.

Nossos especialistas avaliam que um aumento dos juros no terceiro trimestre de 2021 seria uma resposta tempestiva à expectativa de gradual fechamento do hiato do produto – ou seja, a diferença entre o PIB efetivo e o PIB potencial do país –, com a normalização da atividade econômica como resultado do sucesso da vacinação e o PIB voltando à sua tendência pré-Covid.

A redução do caráter expansionista da política monetária também pode responder à persistência da alta dos preços das matérias-primas em dólar, ainda que se possa tratar essa alta como um choque de oferta que nem sempre exige uma resposta de aperto monetário.

Em resumo, nosso cenário central é de que não haja alterações na comunicação da prescrição futura ou na taxa de juros na reunião do Copom no dia 20 de janeiro.

Há uma possibilidade, no entanto, de a comunicação vir a ser alterada nesta semana se o Banco Central adotar uma avaliação mais subjetiva da conveniência da manutenção da prescrição futura, apesar dos condicionantes para seu fim não terem sido plenamente observados.

A taxa básica da economia só deverá ser alterada no segundo semestre, salvo surpresas muito favoráveis no nível da atividade econômica, ou clara evidência de excesso de demanda por limitações estruturais da oferta doméstica.

As reuniões do Copom acontecem sempre durante dois dias consecutivos, sendo o primeiro dia para a análise técnica do cenário econômico e o segundo dia para debates entre os membros do comitê e o anúncio da decisão – entenda mais sobre como é a reunião aqui.

Confira o calendário completo de reuniões do Copom para 2021:

  • 19 e 20 de janeiro;
  • 16 e 17 de março;
  • 4 e 5 de maio;
  • 15 e 16 de junho;
  • 3 e 4 de agosto;
  • 21 e 22 de setembro;
  • 26 e 27 de outubro;
  • 7 e 8 de dezembro.