O início deste ano tem marcado um debate nos mercados internacionais sobre a reflação. Ou seja, um período de alta nos preços tipicamente após uma recessão, quando a economia busca retomar os níveis de crescimento e emprego. Sobre esse tema, nosso time de Macroeconomia investigou as perspectivas de inflação no exterior, principalmente nos Estados Unidos.

A previsão é que a inflação nos Estados Unidos deve acelerar ao longo de 2021, ficando acima de 2%, que é o nível definido como objetivo de longo prazo pelo banco central americano, o Federal Reserve (Fed).

Nos gráficos abaixo, podemos observar que na virada do ano, a inflação ao consumidor nos EUA, medida pelo PCE, deve mostrar forte aceleração, alcançando 2,5% na comparação anual em meados do ano.

Esse mesmo movimento deve ocorrer na medida de núcleo por exclusão – medida utilizada para retirar da conta itens mais voláteis –, que deve acelerar para 2,3% na comparação anual.

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Para nosso time de Macroeconomia, parte do pico da inflação no segundo semestre tem a ver com a forte queda do petróleo no começo da pandemia. Isso ocorreu antes que a intervenção do então presidente Donald Trump levasse Rússia e Arábia Saudita a diminuírem a oferta do petróleo, aumentando seu preço nos mercados mundiais.

Uma desaceleração suave da inflação americana, acrescentam nossos especialistas, pode ocorrer até o final do ano, mas ainda assim mantendo o valor anual próximo do objetivo do Federal Reserve. Nossa equipe de Macroeconomia prevê que essa dinâmica poderá ser observada em outros países, especialmente na Europa.

Inflação no curto prazo

Pressões de custo, no entanto, podem impulsionar ainda mais a inflação em 2021, lembram nossos especialistas.Boa parte dos produtos de consumo americano depende de cadeias de produção internacionais, fazendo com que os preços aos consumidores nos EUA se movimentem, com alguma defasagem, junto aos preços internacionais.

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Verifica-se, por exemplo, a alta correlação do CPI americano com os preços industriais da China (com defasagem de quatro meses).

Esses preços têm subido nos últimos meses, e a percepção do empresariado chinês é de aumento nos preços de insumos industriais. Esse subcomponente do PMI industrial relativo a insumos vem subindo, alcançando o valor de 68, bem acima do nível de 50, que significaria estabilidade de preços à frente.

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Preços de insumos

As pesquisas americanas já registram a percepção de aumento de preços de insumos. O subcomponente das pesquisas do ISM (Institute for Supply Management) para insumos nos EUA, por exemplo, já mostra crescimento.

As projeções da nossa equipe de Macroeconomia para o índice de gastos de consumo medido pelo PCE também apontam para uma alta desse indicador nos próximos meses, para níveis superiores a 2%, algo que não se observa há vários anos na economia americana.

Para nossos especialistas, contudo, a subida de preços em 2021 não parece sustentada, por conta do estágio da economia.

Essa avaliação está baseada em:

  • Grande parte dessa aceleração da inflação nos Estados Unidos e na Europa será por causa do efeito da base de comparação, dada a desaceleração da inflação em 2020 por impacto inicial da pandemia
  • O hiato de produto nos Estados Unidos e na Europa, segundo seus próprios bancos centrais, deve continuar grandes, diminuindo a possibilidade de um iminente início de ciclo inflacionário,
  •  A recuperação do mercado de trabalho nos Estados Unidos tem sido lenta, com ainda mais de 9 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho.

O que esperar para a inflação americana

Uma retomada da inflação no médio prazo não pode ser descartada, segundo nossa equipe de Macroeconomia, até pelos anúncios das autoridades americanas.

No curto prazo, o sucesso da vacinação nos próximos três meses pode levar a uma recuperação rápida da economia, que surpreenda os mercados, com um aquecimento relativamente forte da economia.

Mas, além disso, o governo americano tem sublinhado que os juros ficarão baixos até que mesmo as pessoas com menos qualificação profissional encontrem emprego.

A Secretária do Tesouro, Janet Yellen, tem demonstrado apoio ao aumento do salário mínimo, além da intenção do governo de estimular grandes investimentos de infraestrutura e disposição de pagar um prêmio por produtos com menor impacto climático.

No médio prazo, a melhora do mercado do trabalho e o empenho em aumentar salários tendem a ter um efeito inflacionário, explica nossa equipe de Macroeconomia, não obstante o efeito deflacionário das inovações tecnológicas que continuam transformando a economia mundial.

Segundo nossos especialistas, a discussão sobre reflação procura se antecipar a esses temas, até por preocupações de que haja excessivo gasto fiscal na busca dos objetivos de emprego e renda.