O time de análise do Safra reduziu o preço-alvo para o Ibovespa para 133 mil pontos (de 144mil) para o final de 2022, o que implica valorização potencial de 20% sobre os níveis atuais. Em nossa revisão, assumimos um cenário econômico mais desafiador para a economia local, que incorpora juros mais altos e um modesto crescimento do PIB de 0,8% neste ano.

Com isso, aumentamos nossas premissas de taxas de desconto em nossos modelos, com consequente redução de preços-alvo das empresas analisadas e queda de múltiplo.

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No entanto, entendemos que a abertura da curva de juros no mercado local já carrega um prêmio excessivo, e o fraco desempenho de nomes ligados a economia doméstica combinado com a alta nos preços das commodities levou as ações brasileiras para um nível de preço bastante atrativo.

Atualmente vemos o Ibovespa negociando a um preço/lucro para 2023 de 6,9x, bem abaixo da média histórica. Outro ponto favorável, as companhias exibem baixa alavancagem financeira (dívida líquida/Ebitda hoje em 1,54x), portanto em condições mais saudáveis do que em momentos de estresse de mercado anteriores.

Além disso, o patamar elevado dos preços de commodities deve gerar bons resultados para empresas que atuam nesses setores e que possuem relevante participação no índice.

Outro aspecto positivo é que a inflação parece estar próxima de um topo e o Banco Central sinalizou apenas mais um ou dois aumentos nos juros.

Entendemos que o segundo semestre de 2022 contará com uma volatilidade mais elevada por conta das eleições, mas não necessariamente será um ano ruim para Bolsa brasileira, uma vez que muita coisa já está no preço dos ativos com o Ibovespa negociando a 6,9x o lucro.

Com relação a atividade, acreditamos que a estagnação econômica deverá persistir ao longo de 2022, com os efeitos defasados do aumento da taxa Selic sobre a demanda doméstica e pelos efeitos da incerteza fiscal sobre as decisões de investimento.

A atividade econômica mais fraca tende a gerar um processo desinflacionário mais forte do que o mercado espera, o que poderia ser um catalisador para o mercado de ações, caso se confirme o fim do ciclo de alta de juros nos próximos meses.

No cenário internacional, o conflito no leste europeu tem dado suporte aos preços das commodities, especialmente energéticas e agrícolas, o que tem pressionado ainda mais a inflação e pode afetar negativamente a atividade mundial nos próximos meses.

Nos EUA, a inflação pressionada deve levar o Fed manter um ritmo forte de alta nas taxas de juros e iniciar a redução de seu balanço, fato que deve desaquecer consideravelmente a atividade americana já no próximo semestre.

Isso traz um cenário mais desafiador para renda variável, principalmente para setores de maior crescimento, como tecnologia, que negociam a múltiplos mais esticados. Isso tem reflexo no Brasil em alguns setores com precificação referenciada em pares globais, como os setores de tecnologia e e-commerce.

Setores preferidos na Bolsa

Com um crescimento mais fraco da atividade local, a volatilidade de um ano de eleição no Brasil, o aperto monetário mundial e preços de commodities elevados, estamos dando preferência por uma alocação com foco em nomes de commodities (mineração, petróleo e celulose), seguida de nomes de valor (bancos, telecom, utilidades básicas).

Uma alocação mais defensiva tem funcionado muito bem nesse início de ano e acreditamos que o cenário atual ainda sugere tal exposição. No entanto, a grande diferença de performance de empresas de commodities e empresas de valor versus nomes mais focados no mercado doméstico nos últimos 6 meses nos levam a questionar se seria o momento de adicionarmos peso a ativos ligados à atividade doméstica.

Com a proximidade do fim do ciclo de alta na Selic e a possibilidade de um sinal mais óbvio de pico da inflação no Brasil, podemos ver um movimento de busca pelos investidores por ativos que foram mais penalizados nos últimos meses, então acreditamos que não podemos deixar de ter exposição a nomes do varejo, shoppings e transportes. Nesses setores, gostamos de Assaí, Iguatemi e CCR.

Riscos de maiores gastos e incertezas relacionadas a eleição têm elevado os prêmios de risco do Brasil. Nosso cenário base já incorpora uma piora nas contas públicas, com crescimento esperado da dívida pública para 85% do PIB em 2022.

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Impactos do dólar

A moeda brasileira apreciou mais de 10% desde o início do ano. Além da alta no preço das commodities, o aumento na taxa Selic elevou o diferencial de juros do Brasil versus EUA para próximo do pico e tem impulsionado o fluxo de recursos para o mercado local.

E dada a correlação negativa entre o preço das commodities e a nossa moeda, podemos chegar a conclusão de que o real poderia estar num nível mais apreciado do que vemos hoje. No entanto, vale destacar que a nossa moeda incorpora alguns riscos como as incertezas fiscais, riscos políticos e a indefinição do cenário internacional.

Ja o diferencial de taxa de juros no Brasil versus EUA voltou para nível próximo das máximas dos últimos anos, impulsionando o fluxo de entrada de dólares com operações de “carry trade”, mas tende a se reduzir se considerarmos o que apontam as curvas de juros futuros dos dois países.

O movimento de valorização do real contra o dólar é importante para o país, pois tem potencial desinflacionário. No entanto, um aperto monetário maior que o esperado nos países desenvolvidos, uma desaceleração no preço das commodities, ou um cenário de maiores incertezas por conta das eleições no Brasil seriam riscos para a continuidade da apreciação cambial.

Diante do cenário de câmbio apreciado, elencamos os setores que seriam mais sensíveis a esse movimento. Vemos os setores de shoppings, transportes e construção se beneficiando de um câmbio mais apreciado, que teria o potencial de reduzir a inflação e, posteriormente, abriria espaço para juros menores, melhorando demanda dos seus negócios. O setor de aviação possui custos e dívidas em dólares, o que deixa sua lucratividade exposta às oscilações no câmbio.

Mineração, celulose e petróleo podem ter impacto de receitas menores com um dólar mais fraco no país, uma vez que parcela relevante de suas receitas vem de exportação. Já o setor de siderurgia se prejudica com um câmbio mais forte, o que abriria mais espaço para o aço importado e limitaria os aumentos de preços no mercado local.

Fim do ciclo de aperto

A proximidade do fim do ciclo de alta de juros no Brasil pode gerar um interessante ponto de entrada no mercado acionário.

Quando analisamos o histórico de performance do Ibovespa e os ciclos de ajustes na taxa básica de juros, podemos notar que quando o Banco Central encerra os movimentos de alta na taxa de Selic, o desempenho do mercado acionário normalmente engata uma tendência positiva.

Nessa linha, diante da perspectiva de que o Banco Central brasileiro pode encerrar o ciclo de alta nos juros na próxima reunião do Copom, acreditamos que o fraco desempenho da Bolsa pode estar próximo de um ponto de inflexão.

Acreditamos que os principais riscos de nossa avaliação do preço-alvo do Ibovespa são: desaceleração mais forte que a esperada da economia global; deterioração fiscal adicional do país; abertura adicional da curva de juros; menor taxa de crescimento econômico no Brasil; piora do ambiente político; eleições; e maior austeridade da política monetária nos EUA.

Conheça aqui mais detalhes sobre o novo preço-alvo do Ibovespa.