Com a divulgação do balanço do Itaú Unibanco nesta segunda-feira, 03, os três maiores bancos privados do país já reportaram seus resultados no segundo trimestre de 2020.

Os números negativos do setor no período eram amplamente esperados pelo mercado e pelo nosso time de análise. Diante do cenário de crise econômica e incerteza, as despesas de provisões de crédito seguiram pressionando o desempenho das instituições.

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Apesar disso, a visão de nossos especialistas é positiva para as ações das três empresas. Com coberturas que parecem adequadas para fazer frente à potencial alta da inadimplência, bem como uma perspectiva de gradual recuperação econômica, Luis Azevedo e Silvio Doria, estrategistas da Safra Corretora, mantêm a recomendação de compra para ITUB4 (preço-alvo de R$ 32,00), BBDC4 (preço-alvo de R$ 34,00) e SANB11 (preço-alvo de R$ 39,00).

Veja aqui como foi o desempenho dos bancos de abril a junho.

Itaú Unibanco

O Itaú Unibanco registrou números fracos, com lucro líquido recorrente de R$ 4,205 bilhões, queda de 40,2% em relação ao segundo trimestre de 2019. O resultado veio 4,5% abaixo da estimativa da Safra Corretora, mas 7,5% acima do trimestre imediatamente anterior.

Nossos especialistas lembram que, na comparação interanual, houve queda de 9,5 pontos porcentuais no retorno sobre patrimônio líquido. Essa deterioração veio novamente das fortes provisões para perdas com empréstimos, medida tomada para enfrentar a potencial piora na qualidade da carteira de crédito devido à crise da Covid-19.

Também houve menores receitas com serviços, reflexo da menor atividade econômica. No entanto, os melhores índices de inadimplência, combinados com a redução no nível de provisionamento e com um bom índice de cobertura, podem indicar uma tendência positiva para os ganhos do banco nos próximos trimestres, destacam nossos especialistas.

A margem financeira totalizou R$ 17,775 bilhões, queda de 3,7%, com desempenho mais fraco da margem com os clientes, principalmente por conta de spreads mais baixos. Isso é consequência de uma composição pior, com aumento da participação corporativa sobre a carteira total de empréstimos, mas também pelo menor uso de linhas de crédito rotativas de pessoas físicas. Isso foi parcialmente compensado por maiores volumes de crédito (também impactados pela variação cambial na carteira da América Latina).

Devido à despesa de provisão para créditos de liquidação duvidosa, o custo do crédito alcançou R$ 7,770 bilhões, um aumento impressionante de 92% contra o segundo trimestre de 2019, mas uma queda de 23% em relação aos primeiros três meses de 2020. Embora relevante em termos nominais, nossos especialistas destacam que esse declínio é um bom indicador de que o banco já está bem provisionado.

O Itaú informou ainda que encerrou o trimestre com cerca de R$ 51 bilhões em adiamentos de amortizações de crédito (R$ 13 bilhões em micro, pequenas e médias empresas, e R$ 38 bilhões no segmento de pessoas físicas).

Dito isto, a qualidade da carteira de crédito do Itaú melhorou significativamente, afirma nossa equipe. O índice de inadimplência acima de 90 dias para a operação brasileira atingiu 3,2%, uma queda de 0,3 ponto porcentual. Com condições de pagamento da dívida mais flexíveis, a inadimplência entre 15 e 90 dias ficou em 1,7%, o nível mais baixo desde a fusão entre Itaú e Unibanco, lembram Azevedo e Doria, avaliando que isso sugere que o pico da inadimplência ainda pode demorar mais para se materializar.

Bradesco

O Bradesco reportou no segundo trimestre um lucro líquido recorrente de R$ 3,873 bilhões, uma queda de 40,1% na comparação interanual, 8% abaixo da projeção da nossa equipe, mas com avanço de 3,2% ante o primeiro trimestre.

Os resultados foram impactados negativamente por novo aumento nas despesas de provisão para perdas com empréstimos, além de receitas mais fracas de serviços. Por outro lado, nossos especialistas destacam o bom desempenho das margens financeiras nas operações com o mercado, bem como a melhoria nos resultados operacionais da divisão de seguros e o bom desempenho nas despesas operacionais.

Nosso time entende que o Bradesco também parece bem coberto para enfrentar o potencial aumento da inadimplência nos próximos trimestres, o que sugere que o pior já passou e o nível de provisionamento pode cair nos próximos trimestres.

Na área de seguros, por sua vez, o lucro recorrente das atividades de seguros foi de R$ 1,361 bilhão no segundo trimestre, alta de 17,5% ante o primeiro. O bom resultado da divisão operacional vem principalmente da queda do índice de sinistralidade, com reduções nos procedimentos de saúde eletivos e da diminuição da circulação urbana no segmento de automóvel. Por outro lado, houve uma redução significativa no resultado financeiro devido ao cenário atual de juros.

Santander

O Santander Brasil também apresentou resultados fracos em decorrência da fraqueza da economia e de provisões extraordinárias. O lucro líquido ajustado atingiu R$ 2,137 bilhões no segundo trimestre, em linha com as estimativas da nossa equipe, e 41% abaixo do mesmo período do ano passado.

A despesa de provisões de crédito totalizou R$ 6,534 bilhões, um aumento interanual de 111%, e 20,5% acima da estimativa de nossos especialistas, impactada por provisões extraordinárias de R$ 3,2 bilhões para enfrentar os impactos negativos da pandemia (um aumento de 55% na probabilidade de inadimplência nos modelos de teste de estresse).

Em meio às incertezas econômicas, o banco retirou sua meta de entregar um retorno sobre patrimônio líquido de 21% até 2022. Além disso, o Santander Brasil também anunciou o pagamento de R$ 770 milhões em juros sob capital próprio, a ser pago em 25 de setembro de 2020. O valor representa um dividend yield de 0,7%, destacam Azevedo e Doria.