Caminhando para os dias finais de junho, o principal índice de ações da Bolsa, o Ibovespa, registrou uma semana de volatilidade e sem uma direção clara. Acelerando as perdas nos minutos finais, contabilizou uma queda de 2,83% na semana. Ainda assim, o desempenho destes últimos dias não apaga a trajetória de forte recuperação no mês, com  ganhos de 7,36%.

O cenário internacional continua no foco das atenções. Os investidores acompanham os desdobramentos do novo coronavírus, mais especificamente sobre a possibilidade de uma eventual segunda onda de contaminações forçar o fechamento de economias e atrasar o processo de recuperação.

Destaque para a piora nos números nos Estados Unidos, forçando alguns estados a retomarem medidas de restrição. Selecionamos, abaixo, alguns dos principais eventos que movimentaram o noticiário econômico e financeiro na semana.

Coronavírus nos EUA

Dando prosseguimento ao noticiário da semana anterior, diversos estados americanos seguiram reportando um aumento no número de novos casos. Na quinta-feira, por exemplo, o país registrou um recorde no número de novos infectados: 40.000.

O principal assessor econômico da Casa Branca, Larry Kudlow, afirmou durante a semana que não prevê o retorno de uma quarentena nacional. Ainda assim, estados como Texas, Flórida e Arizona frearam seus planos de retomada. Estes são os locais que mais têm chamado atenção, mas outros também observaram novos recordes de contaminados nesta semana, como Alabama, Califórnia, Idaho, Mississippi, Missouri, Nevada, Carolina do Sul e Wyoming.

O mercado tem observado com atenção esses números. Os dados mais recentes vinham sugerindo uma melhora na economia, mas o avanço do novo coronavírus adiciona incertezas sobre o comportamento desses dados no futuro. Nesta sexta-feira, o Texas e a Flórida anunciaram que irão retomar algumas medidas de distanciamento social, como o fechamento de bares e restaurantes.

O temor de uma eventual segunda onda permanece também em outros países. Na Alemanha, por exemplo, um surto localizado no maior frigorífico do país provocou um forte aumento na taxa de contágio do país.

Guerra comercial

Se os temores de uma disputa comercial entre EUA e China deu uma trégua após o presidente Donald Trump declarar que o acordo entre os países segue intacto, a relação americana com a Europa merece um sinal de alerta.

Na quarta-feira, o governo americano anunciou a disposição a impor tarifas sobre US$ 3,1 bilhões em produtos exportados pela Espanha, França, Alemanha e Reino Unido. O governo receberá comentários sobre esse tema até 26 de julho, quando a tarifa passaria a vigorar. O pano de fundo nessa discussão é a insatisfação dos americanos com relação a subsídios concedidos à Airbus, concorrente da americana Boeing.

Corrida presidencial nos EUA

Ainda no cenário internacional, um tema começa a aparecer com mais frequência no noticiário e deve entrar em foco nas próximas semanas e meses. As eleições presidenciais dos Estados Unidos estão marcadas para o início de novembro, mas em meio à crise da pandemia começam a ser divulgadas pesquisas eleitorais que mostram uma mudança importante de comportamento dos eleitores.

Joe Biden, candidato do partido democrata, agora aparece à frente nas pesquisas. Segundo um levantamento realizado pelo The New York Times e pelo Siena College nesta sexta-feira, Biden aparece com uma vantagem de 14 pontos sobre Donald Trump.

Ata do Copom

No Brasil, a semana foi marcada por uma série de anúncios por parte do Banco Central. O primeiro deles veio na terça-feira, por meio da ata do Copom. Este é o documento que oferece mais detalhes sobre as decisões de política monetária. A última reunião do Banco Central resultou em um corte da taxa Selic para 2,25% ao ano. 

Na ata, revelou-se a importância de analisar os efeitos dos estímulos à economia e a trajetória das contas públicas para as próximas decisões. Segundo nosso time de Macroeconomia, os programas de estímulo ao crédito e de recomposição de renda não devem ser suficientes para recompor de modo relevante a massa de salários. Desse modo, seguimos com a expectativa de novas reduções de juros nas próximas três reuniões, levando a taxa Selic a 1,50% ao ano. Para mais detalhes sobre a análise da ata do Copom, clique aqui.

Novas projeções para o PIB

Na quinta-feira, o Banco Central publicou outro documento importante: o Relatório Trimestral de Inflação. Nele, a autoridade monetária costuma revisar algumas de suas principais projeções macroeconômicas.

Desta vez, a estimativa para o PIB passou para uma retração de 6,4%. Em seguida, o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, declarou em entrevista coletiva haver um viés positivo para esse número.

Apesar de marcar uma queda significativa, o número veio melhor que o divulgado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) um dia antes, quando projetou uma retração de 9,1%. Para Campos Neto, a expectativa do FMI parece levar em conta um cenário bastante pessimista.

Auxílio emergencial

O benefício concedido em caráter emergencial para a população mais necessitada segue cercado por novas negociações. Previsto inicialmente para durar três meses, discute-se agora a prorrogação do programa. Do ponto de vista fiscal, estima-se que ele represente um desembolso de cerca de R$ 152 bilhões.

Durante a semana, o deputado Rodrigo Maia voltou a defender o pagamento de duas parcelas adicionais no valor de R$ 600. Na quinta-feira, no entanto, o presidente Jair Bolsonaro anunciou que o governo avalia o pagamento de três parcelas, mas com valores decrescentes, de R$ 500, R$ 400 e R$ 300.

Crédito para empresas

Se o auxílio emergencial tem como objetivo auxiliar financeiramente as pessoas físicas mais necessitadas durante a pandemia, para as pessoas jurídicas a ajuda tem vindo essencialmente na forma de crédito. E, nesta semana, o Banco Central protagonizou uma série de anúncios destinados a micro, pequenas e médias empresas.

Juntas, as iniciativas divulgadas nesta semana têm como potencial destravar até R$ 212 bilhões em crédito na economia. Ao apresentar as medidas, Roberto Campos Neto reconheceu que parcela significativa dos recursos, até então, haviam sido tomados por grandes empresas.

O Banco Central também detalhou as condições para a compra de títulos de dívida no mercado secundário, em uma medida para oferecer mais liquidez ao mercado. Essa é uma prática adotada em outros países, como pelo banco central dos Estados Unidos, mas é uma novidade no cenário brasileiro. Permanece a expectativa, no entanto, pelo anúncio sobre qual será o tamanho total do programa de compra de ativos e quando ele passará a vigorar.

Agenda de reformas e marco regulatório

O ministro da Economia, Paulo Guedes, declarou em transmissão oficial do Governo que a economia atingiu o “fundo do poço” e já começa a apresentar sinais de melhora em junho. A prioridade para a recuperação econômica, segundo ele, é a geração de emprego e a manutenção de renda, com a perspectiva de enviar o programa verde-amarelo para análise do Congresso em breve.

Ao comentar sobre os próximos planos da pasta, ele defendeu a retomada da agenda de reformas, com encaminhamento da reforma tributária, medidas para destravar os investimentos, especialmente em gás natural, a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e uma maior acessibilidade à cesta básica.

Guedes também citou o avanço em marcos regulatórios. Nesta semana, o Senado aprovou o marco regulatório do saneamento básico. A medida prevê a universalização do serviço e uma maior participação do setor privado. A expectativa é que a aprovação do projeto resulte em montantes vultuosos de investimento no setor. Segundo estimativas de instituições do setor, são necessários cerca de R$ 500 bilhões para universalizar os serviços de água e esgoto.

Joaquim Levy no Safra

Para o Safra, a semana também foi de anúncio importante. Joaquim Levy, que acumula uma trajetória profissional de sucesso, com passagens por instituições como o FMI, o Banco Mundial e esteve à frente do Ministério da Fazenda, agora será responsável pela área de Macroeconomia e de Relações com o Mercado do Safra.

Ele é doutor em Economia pela Universidade de Chicago mestre em economia pela FGV. Recentemente, ele estava desenvolvendo pesquisas sobre tecnologias sustentáveis e transição de economias para emissões líquidas zero de carbono na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.