O mercado de renda fixa é conhecido, principalmente, pela previsibilidade nos rendimentos. É por isso que os últimos dias chamaram a atenção de alguns agentes do mercado, quando os tradicionais fundos DI e o Tesouro Selic, aplicações que costumam ser escolhidas para investir a reserva de emergência, apresentaram retorno negativo.

Esse movimento não é inédito – no início da crise do novo coronavírus, também chegamos a observar retrações pontuais nos preços.

Segundo nossos especialistas, apesar de incomum, esse movimento não é motivo para alarme por parte dos investidores, mas representa uma quebra de paradigma em um mercado que até há pouco tempo era acostumado a retornos expressivos com baixíssimo risco.

O movimento do Tesouro Selic

Um dos principais títulos de renda fixa no mercado é o Tesouro Selic. Este é um título público que também é negociado no Tesouro Direto, podendo estar presente na carteira dos investidores pessoa física e também na carteira de fundos DI, devido à sua característica de baixa volatilidade e alta liquidez.

Também conhecido como LFT, o Tesouro Selic acompanha o rendimento da taxa Selic acrescido por uma taxa prefixada, normalmente com valores próximos a zero.

Essa taxa pode ser interpretada como um prêmio de risco – ou seja, quando os investidores observam mais turbulências no radar, eles demandam um rendimento maior. Foi isso o que ocorreu no mercado de títulos públicos em setembro. E esse aumento na taxa leva a uma queda nos preços dos papéis.

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Em setembro, alguns assuntos referentes à situação fiscal contribuíram para essa visão de maior risco,  como as discussões sobre o teto de gastos, a extensão do déficit público e o avanço da dívida pública.

Em adição a esse cenário de um mercado mais sensível, o Tesouro Nacional surpreendeu ao anunciar neste mês um leilão de títulos públicos em uma proporção que os investidores não estavam acostumados. Em um único dia, em 10 de setembro, foram emitidos quase 45 milhões de títulos públicos, na maior operação deste tipo no ano. 

Esse evento gerou reflexos nos juros exigidos pelos investidores nos títulos públicos. Como consequência dessa taxa mais elevada, nas últimas semanas os preços dos ativos já negociados no mercado apresentaram queda de aproximadamente 0,2%, conforme mostra o gráfico abaixo para o Tesouro Selic com vencimento em 2025.

 

E daqui pra frente?

Apesar da volatilidade vista nos últimos dias, nosso cenário-base permanece o mesmo. Nosso time de Macroeconomia reconhece uma pressão nos preços de alimentos, mas seguimos observando uma perspectiva benigna para a inflação neste e no próximo ano. Você pode ler mais sobre a nossa visão para a inflação aqui.

O Comitê de Política Monetária do Banco Central, o Copom, também vem sinalizando para o fim do ciclo de corte de juros. Segundo projetado pelo nosso time de Macroeconomia, a taxa Selic vai permanecer neste patamar de 2% ao ano até pelo menos o final de 2021 – conforme abordamos neste outro conteúdo.

As oscilações no mercado de renda fixa podem acontecer – e é esta dinâmica de mudanças nos preços dos ativos que permite aos nossos especialistas conduzir uma gestão ativa na renda fixa.

É importante lembrar, também, que ao comprar um título público o investidor garante o retorno por todo o período contratado, independentemente das oscilações de mercado. Apesar de poder visualizar o resultado negativo na carteira, este prejuízo só é de fato realizado caso o investidor se desfaça do ativo.

Isso também vale para os fundos DI. Embora as cotas sejam marcadas pelo preço do dia – este evento é conhecido como “marcação a mercado” – os gestores têm a opção de carregar estes títulos até seu vencimento ou até um momento mais oportuno para a venda.

Para entender mais como é feita a gestão ativa, confira este outro conteúdo.