Os mercados abriram a semana com certo otimismo. Enquanto aguardava o último capítulo que marcava a transição de governo nos Estados Unidos, os investidores locais receberam, ainda no domingo, a notícia de aprovação do uso emergencial de lotes da Coronavac e da vacina de Oxford/AstraZeneca.

Ao longo da semana, no entanto, o impasse para a obtenção de insumos necessários para a produção de vacinas gerou apreensão. Com os números da pandemia em tendência de alta, medidas de restrição e novos auxílios também retomam com mais força ao radar.

Com isso, o Ibovespa, o principal índice de ações da Bolsa, acumulou queda de 2,47%, aos 117.380 pontos, durante a semana. Com isso, os ganhos que eram sustentados no ano foram apagados. Em janeiro, o Ibovespa agora acumula baixa de 1,38%. Já o dólar comercial seguiu em trajetória de valorização, encerrando a semana cotado aos R$ 5,48, alta de 3,23%.

Nossos especialistas comentaram ao longo da semana que o cenário de volatilidade pode continuar no curto prazo, embora reforcem que a perspectiva para a Bolsa continue positiva no médio a longo prazo.

Relembre o que foi destaque na semana. Confira, também, o que esperar para a próxima semana, que reserva uma agenda intensa de divulgações econômicas. 

Vacinas no Brasil

Em reunião no dia 17 de janeiro, domingo, a Anvisa concedeu a autorização para uso emergencial da Coronavac, em pedido realizado pelo Instituto Butantan, e para a vacina de Oxford/AstraZeneca, em pedido realizado pela Fiocruz.

As autorizações foram para 4 milhões de doses da Coronavac e para 2 milhões de doses da vacina de Oxford. Essas são doses importadas da China e da Índia, respectivamente. O lote da Índia, no entanto, chegou ao Brasil somente nesta sexta-feira.

O Instituto Butantan entrou com um novo pedido na Anvisa para a liberação de mais 4,8 milhões de doses, estas envasadas no Brasil e prontas para entrega. A autorização foi concedida no encerramento da semana, também na tarde desta sexta-feira, por unanimidade, e se estende às demais doses que serão produzidas pelo Instituto Butantan nos próximos meses.

Cronograma em atraso

A boa notícia em relação à aprovação dos imunizantes foi ofuscada por outros pontos de atenção, em especial a dificuldade para obtenção de insumos da China para a produção das vacinas.

A Fiocruz revisou seu cronograma e adiou, de fevereiro para março, a entrega das vacinas de Oxford com produção local. Já o Instituto Butantan declarou que, sem insumos, a producão local da Coronavac está parada desde o dia 17.

Alta de infecções e novas restrições

Enquanto acompanham notícias sobre a vacinação, os investidores também monitoram a alta no número de novas infecções e ocupações de leitos de UTI nas últimas semanas. Diante deste cenário, novas medidas de restrições já foram anunciadas.

Em São Paulo, nesta sexta-feira, o governo estadual revelou um endurecimento nas medidas de combate à Covid-19. Todas as cidades do estado estarão na fase vermelha no período das 20h às 06h durante os dias úteis, e o dia inteiro em feriados e finais de semana. Ou seja, bares, restaurantes e comércio ficarão fechados nestes horários, quando podem operar somente os serviços essenciais.   

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Na capital paulista, as medidas entram em vigor na segunda-feira, 25 de janeiro. Inicialmente, as medidas terão duração de duas semanas.

Medidas semelhantes têm sido registradas no exterior. Na Europa, onde os casos também seguem em trajetória de elevação, diversos países seguem com diferentes medidas de restrição em vigor. Durante a semana, noticiou-se na imprensa internacional a possibilidade de novas restrições.

Auxílio emergencial

O debate fiscal voltou a ganhar força na semana. Com o fim do auxílio-emergencial em dezembro e uma nova alta nas infecções, discute-se agora a retomada do auxílio. Nomes como os candidatos apoiados pelo governo às presidências da Câmara e do Senado – Arthur Lira e Rodrigo Pacheco –, por exemplo, deram declarações à imprensa acenando para a possibilidade de retomada do auxílio.

O tema é acompanhado com atenção pelo mercado devido à dificuldade em acomodar as despesas do Orçamento ao teto de gastos, ferramenta vista como relevante para o controle das contas públicas.

As eleições para o comando das duas casas no Congresso estão marcadas para 1º de fevereiro. Com isso, o tema deve continuar no radar ao longo da próxima semana.

Reunião do Copom

Na primeira decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) no ano, havia um consenso de que a taxa Selic seria mantida em 2% ao ano, conforme ocorreu.

As atenções estavam voltadas para o comunicado da decisão, uma vez que o BC havia sinalizado em dezembro que poderia excluir a prescrição futura, uma sinalização adotada no ano passado que indicava a manutenção dos juros para as reuniões seguintes.

Em seu comunicado, o Banco Central retirou a prescrição futura, justificando que suas projeções de inflação agora encontram-se próximas da meta. Segundo avaliou nosso time de Macroeconomia, a mudança na comunicação abre a possibilidade de uma antecipação na alta dos juros.

A ata, que será divulgada na próxima terça-feira, irá trazer mais detalhes sobre o que esperar para os juros nos próximos meses.

Eleições nos EUA

No cenário internacional, o principal evento da semana foi a troca de governo nos Estados Unidos. Na quarta-feira, Joe Biden enfim tomou posse, encerrando um processo eleitoral que foi marcado por uma série de incertezas.

Em seu primeiro dia de governo, Biden assinou 17 ordens executivas, entre elas decretos para que os EUA retornem à Organização Mundial de Saúde (OMS) e ao Acordo de Paris. O presidente também anunciou sua meta de vacinar 100 milhões de americanos em seus 100 primeiros dias de governo.

Também continua no radar o pacote fiscal de US$ 1,9 trilhão. O plano foi apresentado na semana anterior, e ainda deve ser discutido no Congresso. As perspectivas de uma nova injeção de liquidez continuam oferecendo uma sinalização positiva para os mercados.

Os três principais índices de ações dos Estados Unidos – S&P 500, Dow Jones e Nasdaq – renovaram seus recordes de pontuação durante a semana. O S&P 500, por exemplo, embora tenha encerrado a sexta-feira em leve queda, acumulou alta próxima a 2% na semana.