Estamos atualizando nossa cobertura para os grandes bancos do Brasil e adotando uma premissa de taxa de desconto mais alta para o setor. Após a recente deterioração das ações dos bancos brasileiros, é tentador dizer que o setor parece barato, mas para nós isso é apenas parcialmente verdade.

O efeito Selic sobre a posição de gestão de ativos e passivos dos bancos e a qualidade do crédito teve um impacto distinto sobre os bancos em nossa cobertura. Além disso, o aumento do risco global do setor (refletido no Ke mais alto) para enfrentar a deterioração do cenário macroeconômico justifica, a nosso ver, uma valorização menor para quase todos os nomes sob nossa cobertura. Mesmo assim, ainda reconhecemos bons nomes para manter a exposição no setor.

Nossas preferências, em ordem decrescente, são Itaú Unibanco (Compra; Preço-alvo: R$ 34/ação) e Banco do Brasil (Compra; Preço-alvo: R$ 58/ação), ambos em muito boa forma em termos de dinâmica de resultados, qualidade de crédito e valuation. Por outro lado, estamos rebaixando o Bradesco para Neutro (Preço-alvo: R$19/ação), enquanto mantemos o rating Neutro para o Santander Brasil (Preço-alvo: R$35/unit), ambos principalmente devido a preocupações com o crescimento da receita e provisão despesas.

Visão sobre a situação dos bancos em 2023

A situação é melhor para Itaú Unibanco e Banco do Brasil, e pior para Bradesco e Santander Brasil. Esperamos resultados mistos em 2023 em geral, com Bradesco e Santander Brasil sofrendo com resultados de tesouraria e níveis ainda altos de provisões.

Por outro lado, esperamos que o Banco do Brasil apresente os melhores resultados, com a inadimplência bastante controlada, refletindo seu perfil de crédito mais focado no setor agrícola (setor que vem apresentando bom desempenho) e no crédito consignado.

Da mesma forma, o Itaú Unibanco também deve entregar mais um ano sólido em termos de resultados, principalmente em linha com nossas estimativas anteriores: com forte desempenho de crédito, crédito de qualidade sob controle e uma sólida execução.

Preferência por bancos de grande capitalização

Continuamos a dar preferência aos bancos de grande capitalização em detrimento dos bancos médios e digitais, dada a sua maior capacidade de adaptação a cenários mais adversos.

Por adaptação, estamos nos referindo aos recursos de financiamento, distribuição e precificação.

Pode-se dizer que o crescimento dos bancos médios e digitais pode ser maior do que dos grandes, e tendemos a concordar, mas os riscos de se adaptar a um cenário diferente também são maiores.

Continuamos vendo as ações ITUB e BBAS como uma das alternativas mais atraentes do setor em termos de múltiplos.

Atualmente, o ITUB é mais barato que o BBDC em múltiplos (~10% de desconto no P/L 23e), o que não vemos como justificado dado o seu melhor perfil de risco-retorno.

O BBAS também é uma pechincha em nossa opinião, dado que sua avaliação atual (3,1x P/L 23e e abaixo do patrimônio líquido, em 0,6x) já reflete riscos políticos potenciais.

A qualidade do crédito é a principal preocupação. Nossa maior preocupação com os bancos diz respeito à qualidade do crédito, principalmente no segmento de pessoa física, onde a inadimplência já atinge níveis históricos.

Por outro lado, embora a inadimplência do segmento Corporate esteja em níveis historicamente baixos, um cenário econômico mais tenso pode ter reflexos no segmento.

Os tickets são maiores para grandes corporações, assim como as durations, que aliadas a eventos não antecipados pelos bancos (por exemplo, evento nas Lojas Americanas), devem produzir maiores impactos nas despesas de provisão.

Existem outros riscos a serem considerados, como: concorrência de bancos públicos e mudanças regulatórias (limite dos juros do cartão de crédito e fim do benefício fiscal do JCP).

Abra sua conta no Banco Safra.