Os investimentos em capital fixo apresentaram grande crescimento durante o ano de 2021, e devem seguir em nível relativamente alto em 2022. Segundo o indicador de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) do Ipea, os investimentos avançaram 17,8% no ano até outubro. O crescimento foi disseminado entre os setores, com destaque para máquinas e equipamentos, com mais de 20% no ano.

Esse crescimento, ainda que concentrado no primeiro trimestre, é ainda mais notável considerando a distorção estatística causada pelo registro de importação das plataformas de petróleo no final de 2020, o que tenderia a deprimir a taxa de crescimento anual em 2021.

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A construção civil, por sua vez, deve crescer por volta de 13% em 2021, em resposta ao elevado volume de lançamentos imobiliários nos últimos anos, estimulado em parte pelo nível invulgarmente baixo da Selic entre meados de 2020 e grande parte de 2021.

A retomada da construção civil nos dois últimos anos, com a triplicação das unidades residenciais financiadas pelo SFH e a proliferação de galpões, especialmente na esteira do crescimento do comércio eletrônico, fez com que o nível de investimento em 2021 fosse o melhor desde 2016, ainda que abaixo do período 2012-14, que se beneficiou da construção de grandes equipamentos para a prática desportiva e de bastante folga orçamentária no programa Minha Casa, Minha Vida.

Em 2022, há a expectativa de que a atividade da construção civil continue crescendo, amortizando a queda dos outros componentes nos investimentos. Dado o grande volume de obras em curso, algumas chegando aos estágios mais intensos e outras se iniciando agora, a construção civil deve crescer até 3% em 2022. O crescimento deve se dar apesar da queda do número de lançamentos desde o 3º trimestre de 2021.

Vários indicadores corroboram a projeção robusta para a construção civil. O indicador de lançamento de imóveis em São Paulo apresentou alta de 63% em doze meses até outubro de 2021, contribuindo para a entrada de novas obras nos meses recentes e nos próximos meses. A produção de cimento, por seu lado, chegou a patamar surpreendente depois de vir subindo desde a metade de 2020. Ela hoje se encontra em patamar tão elevado quanto 2015.

Em suma, a natural retração do número de lançamentos depois do aumento da taxa de juros dos últimos meses e sua permanência em níveis reais cada vez mais altos deverá impactar o índice de construção civil mais em 2023 do que no ano corrente.

Por outro lado, a queda nos investimentos em máquinas e equipamentos tem sido rápida e forte. Para essa categoria, a confiança da indústria nos ajuda como indicador antecedente. Tal confiança já começou a cair desde meados de 2021. Isso pode ser explicado, entre outras coisas, pela incerteza fiscal, aumento do custo de produção e aumento da taxa de juros. Esse processo prejudicará a confiança dos empresários ainda mais, fazendo com que os investimentos em máquinas e equipamentos recuem por volta de 11% no ano.

No total, a FBCF deve recuar por volta de 2,7%, puxada para baixo também pela contração de 6% em Outros Investimentos. A contribuição das novas concessões para esses valores é difícil de discernir com precisão, mas deve ser ligeiramente positiva.

Apesar da taxa de investimento continuar bastante aquém do necessário para o Brasil, o relaxamento fiscal e monetário dos últimos trimestres tem ajudado a trazê-la para níveis um pouco mais encorajadores. Pode-se esperar que a contribuição das obras assumidas como obrigatórias nas recentes rodadas de concessões federais e estaduais comece a amparar o investimento.