Com o final do ano se aproximando, as atenções se voltam agora para o que será da economia em 2021. Este foi o tema de uma live promovida nesta quarta-feira, 16, entre Joaquim Levy, diretor de Estratégia Econômica e Relações com Mercados no Safra, e Maílson da Nobrega, ex-ministro da Fazenda e sócio-fundador da Tendências Consultoria.

Uma das pautas econômicas que mais esteve no radar deste ano é a questão da agenda de reformas estruturais. E, para Maílson, existem duas agendas fundamentais neste sentido para 2021: a PEC Emergencial e a reforma tributária.

A reforma administrativa, apesar de também ser relevante, pode esperar um pouco mais para seguir no Congresso, na avaliação do ex-ministro. 

PEC Emergencial 

Para Maílson, um dos maiores riscos para 2021 se dá no lado fiscal. Neste cenário está um Orçamento com pouco espaço para despesas discricionárias e os desafios para a manutenção do teto de gastos, que em sua visão será "muito difícil de cumprir".

A PEC Emergencial entre neste contexto, sendo uma importante ferramenta para o controle de gastos.

O texto prevê cortes de gastos temporários no setor público, acionados após serem atingidos determinados gatilhos. Entre as medidas, estão redução de jornada de trabalho e salários. Maíls lembra que estima-se um potencial de economia de R$ 20 bilhões a R$ 25 bilhões com a aprovação da PEC Emergencial, o que tornaria menos difícil o cumprimento do teto de gastos.

Reforma tributária 

Esta é uma reforma prioritária para elevar o potencial de crescimento econômico do país, explica o ex-ministro da Fazenda.

O modelo ideal em sua visão, diz, é a reforma idealizada por Bernard Appy, um dos fundadores do Centro de Cidadania Fiscal e um dos autores do texto que serviu de base para a PEC 45/2019, que está em tramitação no Congresso.

A PEC 45 prevê a criação de um tributo chamado IBS, unificando tributos federais (PIS, Cofins e IPI), estaduais (ICMS) e municipais (ISS). A reforma tributária, diz Maílson, é a mais relevante para aumentar o potencial de crescimento econômico do país.

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Para o ex-ministro da Fazenda, nunca existiram condições tão favoráveis a uma reforma tributária sobre o consumo.

O desafio de uma reforma tributária historicamente encontrou resistência nos Estados, devido à arrecadação via ICMS, mas para Maílson as condições mudaram, uma vez que o regime atual tem se mostrado disfuncional e já começa a se traduzir em perda de arrecadação em alguns casos.

A proposta em tramitação, segundo cálculos citados por Appy, mostram que em 15 anos o potencial de crescimento do país por meio da reforma tributária pode chegar a 20 pontos percentuais.

Revolução em andamento na renda fixa

O ex-ministro também comentou sobre a forte recuperação no desempenho da Bolsa neste encerramento do ano, mas destacou mudanças importantes em outro mercado. “Estamos vendo uma revolução na área de renda fixa”, disse.

Maílson explicou que tem havido uma relevante mudança de comportamento das empresas, que historicamente recorrem ao BNDES para obter recursos, e cada vez mais buscam o mercado de renda fixa para se financiar.

Citando estudos do economista Carlos Rocca, Maílson ressalta que o mercado de capitais já representa algo em torno de 25% da oferta de crédito no Brasil, emergindo como fonte de financiamento de longo prazo. 

O caminho à frente, explica, é ter participação crescente no mercado de capitais também para o capital de giro, assim como já acontece em outros mercados, como o dos Estados Unidos.Para Maílson, no espaço de 10 anos o mercado de capitais será a fonte mais relevante de oferta de crédito no Brasil.  

A queda na taxa de juros também tido papel essencial nessa transformação, explica o ex-ministro. Ele lembra que a taxa Selic em 2% ao ano não é a taxa de juros estrutural do Brasil, mas já reflete alguns fatores permanentes, o que deve levar os juros a um patamar de 4% a 6% em um cenário normal, em linha com outros pares da América Latina e muito abaixo dos níveis históricos do país.

Enquanto o mercado de dívida corporativa ainda não é amplamente acessível às pequenas empresas, Levy lembrou, também, que o avanço da tecnologia é outro ponto que tem provocado mudanças importantes no mercado de crédito, permitindo ampliar o acesso de recursos a empresas de menor porte.

Isso porque, explica o diretor do Safra, atualmente é possível obter muito mais informações sobre os tomadores de empréstimos – no Safra, por exemplo, por meio das maquininhas SafraPay, é possível conhecer de perto este mercado –, favorecendo a distribuição de crédito. Em um cenário de juros baixos de modo sustentável, acrescenta Levy, isso poderá democratizar cada vez mais o crédito, valorizando a iniciativa privada.

Reveja a live

Maílson e Levy ainda conversaram sobre os fatores que levaram à recente melhora nos mercados financeiros, as perspectivas de crescimento para 2021, bem como seus riscos, os desafios para o crescimento no médio e longo prazo, a ascensão do tema ESG nas empresas e muito mais.

Assista à live na íntegra abaixo: