O investimento no mercado acionário tem apresentado desafios e oportunidades nos últimos meses. Após um forte choque nos preços das ações negociadas em Bolsa em março, abril se configurou como um mês de recuperação.

Agora, para vislumbrar o que podemos esperar para os próximos meses, promovemos na última terça-feira, 5 de maio, uma live com o time de análise da nossa Corretora. Durante a transmissão, marcaram presença sete analistas, que comentaram, na visão deles, as melhores oportunidades de investimento para uma carteira equilibrada - você pode conferir a carteira recomendada de ações completa neste link.

Confira, abaixo, os principais temas discutidos por setor de atuação.

O que esperar para o mercado de modo geral

Para o estrategista Luis Azevedo, o mercado deve continuar volátil no futuro próximo, dada a pouca visibilidade que se tem hoje quanto à duração das medidas de isolamento social, necessárias para conter o avanço do novo coronavírus, bem como sobre a dimensão de seus impactos na economia. Atualmente, nosso time de Macroeconomia projeta uma queda de 4,4% do PIB para este ano.

Entretanto, a visão da nossa Corretora é de uma eventual retomada do mercado, a depender ainda de sinais de controle da crise sanitária. Para o ano, a projeção do time de análise para o Ibovespa está em 97 mil pontos.

Petróleo e Petrobras

A exploração de petróleo é fortemente impactado pela pandemia, conforme explicou o analista Kaique Vasconcellos. “Enquanto essa pandemia global persistir, o preço do petróleo deve permanecer em patamares muito baixos”, afirmou. Na visão do analista, no entanto, uma vez que a crise for superada, o preço do barril de petróleo deve retomar a um patamar superior a US$ 45, nível que é considerado mais saudável para as empresas do setor.

Ao comentar sobre a Petrobras, o analista reafirma a perspectiva otimista para as ações, dada a perspectiva de normalização no preço do petróleo e à trajetória recente da companhia de aumento de produtividade, por meio de medidas como o plano de desinvestimento, mantendo o foco da empresa em produção e exploração, áreas nas quais a companhia já demonstrou elevada capacidade de atuação. “O ponto de atenção no curto prazo é a duração da pandemia e quanto tempo a empresa conseguirá sobreviver. Estimamos um ano e meio de fôlego para sobreviver neste nível de preço”, explica. Segundo as projeções do analista, o potencial de valorização do papel é de 45%.

Mineração e Vale

As ações da Vale são as preferidas do nosso time de análise no setor de mineração. “O grande consumidor internacional é a China, e durante o primeiro trimestre ela passou pelo que foi provavelmente a parte mais crítica das ações de combate ao coronavírus, e observamos relativamente estabilidade no preço do minério de ferro”, explica o analista Conrado Vegner.

O minério de ferro é o principal produto da Vale. A estabilidade nos preços decorre de dois motivos, segundo o especialista: demanda chinesa relativamente estável, mesmo com o lockdown, uma vez que grande parte das usinas continuaram operando; e restrições de oferta no Brasil por conta de um grande volume de chuvas, o que impactou a produção e o embarque do produto, bem como restrições de oferta na Austrália devido a um ciclone tropical.

Aliado a isso, a empresa possui uma posição financeira bastante sólida, segundo o analista, com uma dívida líquida que é menos da metade do EBITDA, medida conhecida como um equivalente da geração de caixa. O câmbio também tem atuado a favor da empresa. “O minério de ferro é cotado em dólar, e os custos de produção e as despesas gerais em reais, então a desvalorização do real tende a ser benéfico para a lucratividade”, explica.

Outro ponto que os investidores estão acompanhando com atenção é a retomada na distribuição de dividendos, que estão suspensos. Segundo o analista, um sinal de possível retomada na distribuição do lucro será quando a empresa quitar a linha de crédito rotativo de US$ 5 bilhões que tomou no mês passado.

Siderurgia

Na siderurgia, o cenário é oposto ao da mineração. Usiminas e Gerdau anunciaram paralisações de alto-forno, que normalmente são adotadas apenas como medidas de última necessidade. “O fato de terem paralisado indica que a perspectiva para a demanda é bastante ruim”, explica Conrado Vegner. A medida tem como objetivo diminuir a produção e preservar o caixa, bem como evitar a acumulação de estoques.

No entanto, essa iniciativa vem com um preço elevado. Nosso analista explica que a retomada de um alto-forno é demorada. “A volta da operação de um alto-forno pode levar dois meses se não for feita nenhuma intervenção ou reforma, havendo reforma o tempo mais do que dobra para voltar”, afirma.

Consumo e Varejo

Conforme explica o analista Guilherme Assis, o setor de consumo e varejo deve ser dividido em dois segmentos principais: o de bens de consumo duráveis, como móveis, eletrodomésticos e vestuário, e o de bens de consumo não-duráveis, como itens de alimentação, medicamento, limpeza e higiene.

Enquanto a linha de itens duráveis sofreu com o fechamento de lojas, podendo representar uma quebra de até 90% da receita a depender do período analisado, o setor de bens não-duráveis tem se mostrado mais resiliente. “Alguns dos players mais preparados, estruturados e capitalizados, que conseguiram planejar e implementar táticas de guerrilha em pouco tempo, conseguiram reverter a queda na receita, como a Via Varejo”, afirma, com a ressalva de que o preço da ação ainda segue bastante inferior ao período pré-coronavírus.

“Olhando para frente, vemos que os riscos do setor são as incertezas em relação ao retorno e os impactos no nível de emprego e na confiança do consumidor. Mesmo se a quarentena fosse encerrada agora, as pessoas não estão dispostas a sair de casa e frequentar shoppings, restaurantes e lojas, então esses impactos vão durar por mais tempo”, afirma.

Pão de Açúcar

O Pão de Açúcar mereceu destaque especial dentro do varejo alimentar. Para Guilherme Assis, essa é a empresa mais resiliente do setor. Para isso, ele lista alguns diferenciais, entre eles um desconto no preço da ação em relação aos papéis de seu principal concorrente na Bolsa, o Carrefour. Historicamente, esse desconto ocorria por conta de questões envolvendo a governança corporativa. No entanto, desde a reestruturação da companhia no ano passado, essa mudança na governança ainda não se refletiu nos preços da ação - e a expectativa é que essa diferença desapareça.

Além disso, a atuação da companhia durante a crise também foi elogiada. “O que temos visto agora com a crise é que a gestão do Pão de Açúcar conseguiu acertar a mão em várias medidas, pelo que ouvimos deles e que pode ser corroborado pelos números do primeiro trimestre, eles conseguiram capturar o aumento da demanda pontual ocasionada pelo coronavírus”, afirma.

Shoppings

O setor de shoppings pode induzir muitos investidores ao erro. Apesar de os empreendimentos estarem fechados como medida de segurança para o combate ao coronavírus, há boas oportunidades de investimento, de acordo com o nosso analista Luiz Peçanha. “Diferente do varejo, esse é um setor de propriedade. Ele é muito mais resiliente e depende muito menos da demanda de curto prazo”, explica. “A maioria dos investidores que compram ações no setor de shopping, que é um segmento de renda, estão buscando se posicionar em busca de um retorno anual superior ao retorno livre de risco”, complementa.

Para mitigar os riscos, os shoppings estão adotando medidas para proteger os lojistas, como isenção ou desconto de aluguel no curto prazo e concessão de crédito para casos específicos. No entanto, mesmo se considerarmos um cenário bastante pessimista, com uma perda hipotética de 50% na receita deste ano, o impacto no valor total do shopping, utilizado para analisar a ação, seria da magnitude de 3% a 4%. Isso porque os modelos de avaliação consideram um cenário muito mais longo, podendo chegar a 10 anos. “Quando a situação normalizar vamos ter a redução do risco e as ações voltarão a ser negociadas com esse risco menor”, afirma.

As preferências do setor ficam por conta de Iguatemi e Multiplan, com ligeira preferência pelas ações da Iguatemi devido ao posicionamento mais destacado em São Paulo, região com uma economia mais dinâmica.

Saúde

Assim como no setor de varejo e consumo, o setor de saúde também se divide em dois segmentos principais: o de operadoras de saúde, que apresentam mais resiliência no lado da receita, e o de laboratórios, que neste momento são mais impactados. de acordo com o analista Ricardo Boiati.

Na primeira categoria entram a Hapvida, Intermédica e OdontoPrev, que podem se beneficiar no curto prazo. “Por conta do coronavírus todos os procedimentos não-emergenciais estão sendo cancelados ou postergados para liberar leitos, e isso gera uma economia de custo para essas empresas”, explica. O grande risco para essas empresas é um eventual colapso na rede hospitalar, o que no momento parece relativamente baixo, especialmente para as empresas mencionadas.

O segmento laboratorial atua na ponta contrária: eles estão deixando de faturar, ao mesmo tempo em que grande parte de seus custos são fixos. No médio a longo prazo, no entanto, a avaliação é que laboratórios como Fleury e Pardini são sólidos e estão bem posicionados para capturar uma retomada, por isso a perspectiva é positiva, apesar da dificuldade no curto prazo.

Energia elétrica

O setor elétrico é dividido em três segmentos: geração, transmissão e distribuição. Os dois primeiros apresentam contratos fixos com os clientes, tornando o risco das empresas baixo. No segmento de distribuição, há um descasamento entre receitas e despesas. Por isso, empresas do setor anunciaram a suspensão temporária no pagamento de dividendos, o que é visto pelo analista Kaique Vasconcellos como uma medida prudente.

No entanto, o governo tem atuado para manter o equilíbrio do setor, e a tendência é que as companhias consigam recuperar o fluxo de caixa nos próximos meses. “Não acreditamos em mudanças na política de dividendos, o setor elétrico apresenta muito boas oportunidades para os investidores”, afirma. Há duas ações do setor em nossa carteira recomendada: Engie e CPFL, com distribuições de dividendos estimadas em 8% e 7,5% neste ano.

Bancos e B3

Os resultados de instituições financeiras como Bradesco e Itaú já têm mostrado um impacto forte da crise no balanço. Para o analista Luis Azevedo, os bancos estão sendo prudentes em aumentar a provisão para lidar com uma possível elevação na inadimplência. “Mas, no médio prazo, a crise não será para sempre, e o modelo de negócio dos bancos é resiliente”, explica, citando que além do espaço para crescer na carteira de crédito, há também um componente grande de serviços. A preferência no momento é pelas ações de Bradesco e Banco do Brasil por serem os papéis com os maiores descontos, o que se traduz em um potencial de valorização maior.

Já a B3 deve se beneficiar do aumento no volume negociado em Bolsa. A empresa tinha a expectativa de registrar um crescimento no número de IPOs e ofertas secundárias, no entanto o modelo de negócios permanece bastante diversificado. “Vemos potencial de apreciação no médio prazo, e no curto prazo é bem resiliente”, complementa, ao destacar também que a companhia tem distribuídos bons dividendos.

Locadoras de veículos

Há três empresas do segmento de locação de veículos na Bolsa: Localiza, Unidas e Movida. Elas atuam tanto com aluguel de carros para o varejo quanto para locação de frota. Elas serão impactadas pela crise, especialmente no segmento de aluguel para o varejo, que é mais exposto ou turismo e a viagens de negócios. Segundo nosso analista Luiz Peçanha, todas as três empresas têm exposição grande a esse segmento, embora a Unidas tenha uma parcela menor.

Ainda assim, a avaliação é de que os preços das açôes sofreram em demasia. Vale lembrar que esse é um segmento dinâmico, que nos últimos anos cresceu a taxas em dois dígitos. “Acreditamos que os papéis já caíram muito e já refletem essa piora no resultado de curto prazo”, afirma. Nesse cenário, a Movida parece ser a mais penalizada, sendo negociada próxima de sua mínima histórica. “Quando normalizar, os papéis tendem a recuperar valor de forma rápida, por isso continuamos otimistas com o setor”, explica.

Confira a live na íntegra

Nosso estrategista também Cauê Pinheiro também comentou sobre alterações em nossa carteira recomendada de Dividendos e de BDRs (papéis de empresas estrangeiras negociadas no mercado brasileiro).

Para conferir em detalhes todo o debate de nossos analistas, confira o vídeo abaixo.