Os especialistas do Safra revisaram recentemente a estimativa para o Ibovespa ao fim do ano de 97 mil para 112 mil pontos. Para mostrar como chegaram ao novo número, Cauê Pinheiro e Luis Azevedo, da Safra Corretora, apresentaram nesta sexta-feira, 24, os métodos utilizados na projeção.

O preço-alvo do Ibovespa foi calculado com base em duas metodologias: uma bottom up (de baixo para cima), e outra top down (de cima para baixo). Esta última consistiu em determinar uma razão justa entre o preço que o mercado está negociando as ações e os fundamentos das empresas.

Neste caso, nossos especialistas utilizaram o múltiplo P/L. Assim, o Ibovespa deveria ser negociado a um preço 14 vezes maior do que o lucro projetado para as empresas, segundo a análise de nossa equipe.

Por esse caminho, o preço para o principal índice de ações do Brasil deverá ser de 106,3 mil pontos. "A vantagem dessa metodologia é que ela é bem rápida de utilizar, a questão é calibrar as premissas de prêmio de risco, crescimento e olhar com cuidado a projeção de lucro", diz Azevedo.

Ele chama atenção também para os efeitos dos juros e do risco-país nos cálculos. "Quanto maior a taxa de juros, maior o custo de capital próprio", explica.

Com o avanço desse custo devido à crise do coronavírus, o múltiplo recuou a 11 vezes na projeção anterior, que previa o índice em 97 mil pontos. Agora, contudo, o P/L voltou ao nível que estava antes da pandemia, aponta.

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Já a análise de baixo para cima, afirma Cauê Pinheiro, é baseada no preço-alvo de cada ação que compõe o Ibovespa. Se por um lado ela permite uma análise mais detalhada, por outro a execução é muito mais complexa, já que demanda a atualização das projeções para dezenas de empresas. Por esse modelo, o time da Safra Corretora chegou a um preço justo de 117,2 mil pontos.

Essa análise permite contrastar o desempenho das ações do Ibovespa com as ações do índice de small caps, aquelas com menor valor de mercado, voltadas ao crescimento.

Pinheiro ressalta que essas ações apresentaram um desempenho melhor nos últimos 12 meses. Ao contrário do Ibovespa, explica, o índice de small caps tem menor concentração setorial. Nele, o maior peso está nos setores de consumo, construção civil e saúde, enquanto o Ibovespa está bastante concentrado em empresas ligadas a commodities e serviços financeiros.

Recuperação em 'V'

Para Luis Azevedo, o mercado mostrou algo próximo a uma recuperação em 'V'. Já na economia, esse movimento ainda não está claro. A avaliação dele é que isso foi sustentado pelo estímulo monetário dos bancos centrais ao redor do mundo. Ao prover liquidez e reduzir as taxas de juros, eles facilitaram a migração de ativos da renda fixa para a renda variável.

Ele acredita que a recuperação deverá ser mais lenta, mas alguns setores devem mostrar bons resultados. Ele explica que a Carteira Recomendada do Safra está com uma exposição a risco razoavelmente neutra, próxima ao mercado, dividida em ativos de crescimentos e outros mais defensivos.

A leitura de nossos especialistas é moderadamente otimista para a Bolsa, com preferência em papéis que ficaram para trás neste recente movimento de recuperação e que têm espaço subir. Veja aqui as indicações para o mês de julho.

Um exemplo são os bancos, que ainda apresentam um maior potencial de valorização. "O ano de 2020 será ruim e isso já está mais do que refletido no preço das ações."

Olhando à frente, o resultado deles deverá se aproximar ao de alguns anos atrás e as ações podem se valorizar num horizonte no curto médio prazo. Veja abaixo a conversa completa com a análise de outros setores: