O cenário para a inflação tem apresentado algumas importantes mudanças no curto prazo, especialmente com pressões de alimentos, conforme viemos abordamos nos últimos conteúdos de nossos especialistas.

Agora, nosso time de Macroeconomia também reforça que os preços devem subir no médio prazo, por conta de um repasse maior do câmbio aos preços, pela retomada esperada no setor de serviços, que postergou reajustes neste ano por conta da pandemia, e pela recuperação no mercado de trabalho em nível condizente com a projeção de crescimento do PIB no próximo ano, estimado em 4,5%.

Deste modo, nossos especialistas ajustaram as projeções para o IPCA. Em 2020, a previsão passou de 2,9% para 3,1%. E, em 2021, avançou de 3,1% para 3,5%. 

Neste cenário, nosso time de Macroeconomia também alterou a projeção para a taxa Selic. Agora, espera-se que a taxa permaneça estável em 2% ao ano até o quarto trimestre do próximo ano, quando se inicia um movimento de alta, encerrando 2021 aos 2,50% ao ano. Este movimento, segundo nosso time de Macroeconomia, tem como foco levar a inflação de 2022 para dentro da meta.

A meta de inflação, definida pelo Conselho Monetário Nacional e perseguida pelo Banco Central, prevê uma redução gradual do IPCA ao longo dos anos, com a meta passando de 4% neste ano para 3,75% em 2021, 3,50% em 2022 e 3,25% em 2023.

Copom admite inflação maior

Na noite de quarta-feira, o Comitê de Política Monetária do Banco Central manteve a taxa Selic em 2% ao ano, conforme amplamente esperado pelo mercado. As atenções, no entanto, estavam no tom que seria adotado pela autoridade monetária em seu comunicado.

O Copom admitiu que a inflação de curto prazo ficou acima do esperado e elevou a sua projeção para 2020. No entanto, manteve a avaliação de que as pressões nos preços são temporárias.

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Ainda assim, nossos especialistas afirmam que o Copom subiu um degrau na preocupação com o cenário inflacionário ao mencionar que “monitora sua evolução com atenção”, além de classificar a inflação subjacente “em níveis compatíveis” com o cumprimento da meta para a inflação no horizonte relevante para a política monetária. Até então, a expressão utilizada nos comunicados anteriores mencionava  a inflação subjacente como “abaixo dos níveis compatíveis”.

Adotando como premissas a taxa de juros da Pesquisa Focus e uma taxa de câmbio partindo de R$ 5,60, as projeções do Copom para o IPCA no cenário básico também subiram. Em 2020, passou de 2,1% para 3,1%. E, em 2021, avançou de 2,9% para 3,1%, mantendo-se estável em 3,3% para 2022.

No cenário com taxa de juros constante em 2% ao ano e câmbio partindo de R$ 5,60, as projeções de inflação se situam em torno de 3,1% para 2020, 3,2% para 2021 e 3,8% para 2022.

Risco fiscal

O Banco Central classificou o risco fiscal como elevado, fato que segue “criando uma assimetria altista no balanço de riscos” e, segundo nosso time de Macroeconomia, reflete a dificuldade que temos observado em equacionar as demandas em torno do Orçamento de 2021, após o fim do estado de calamidade.

Mas, a despeito da elevação do risco fiscal, o Copom manteve a prescrição futura, ou seja, o trecho do comunicado no qual diz que “o Copom não pretende reduzir o grau de estímulo monetário desde que determinadas condições sejam satisfeitas”. A manutenção deste trecho era esperada pelo nosso time de Macroeconomia, mas nos últimos dias havia crescido no mercado a incerteza se haveria alguma alteração.

Os membros do Copom também apontaram que o regime fiscal não foi alterado, e que irá apenas reagir a um cenário de deterioração, caso venha a se materializar. Foi mantida a frase "o espaço remanescente para utilização da política monetária, se houver, deve ser pequeno". Segundo nossos especialistas, parte do mercado esperava que, considerando os riscos fiscais e a pressão de curto prazo, o Copom poderia retirar a menção ao espaço remanescente para a redução da taxa de juros. 

O comunicado manteve entre as suas opções a possibilidade de nova queda da Selic considerando o cenário ainda bastante incerto sobre a atividade econômica e também sobre a pandemia, que volta a castigar mais severamente alguns países, com possíveis reflexos deflacionários.