Nos últimos meses, o cenário para a inflação tem surpreendido o mercado. Desta vez, o IPCA-15 de outubro, indicador que também é conhecido como prévia da inflação por usar a mesma metodologia do IPCA aplicada a um período de tempo diferente, novamente surpreendeu com um valor acima do projetado pelo mercado e pelo nosso time de Macroeconomia.

O IPCA-15 de outubro avançou 0,94% em outubro, acima da projeção de 0,87% do nosso time de Macroeconomia, conforme abordamos neste conteúdo.

No ano, o indicador acumula alta de 2,31% e, nos últimos 12 meses, a variação acumulada passou de 2,65% para 3,52%.

Nossa equipe de Macroeconomia lembra que quase todos os grupos que compõem o índice registraram elevação em outubro, com exceção de “Educação”.

A maior variação (+2,24%) e o maior impacto (+0,45 ponto porcentual) continuaram a vir do grupo “Alimentação e bebidas”, mas merece destaque também as acelerações observadas nos grupos de “Transportes” (+1,34%) e “Artigos de Residência” (+1,41%). Essas altas se traduziram numa elevação da inflação de bens industriais de 0,87%, ante nossa projeção de 0,48%.

Inflação de curto prazo

Como nossos especialistas já abordaram em relatórios anteriores, as pressões inflacionárias de produtos agropecuários, devido à maior demanda externa e à desvalorização do real, somadas à maior demanda interna por produtos alimentícios, fizeram com que nós e o mercado revisássemos, no último mês, o IPCA de curto prazo significativamente para cima.

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Apesar da elevação, grande parte desse choque deve ter seus efeitos restritos em 2020. Para 2021, projetamos desaceleração do grupo “Alimentação no domicílio”, de 13,1% esse ano para 3,5%.

Em relação aos bens industriais, nosso time de Macroeconomia explica que observamos no IPCA-15 de outubro a continuidade da aceleração já vista no IPCA de setembro, com sinal ainda moderado de repasse cambial. Nas nossas projeções, considerávamos repasse parcial da desvalorização do real concentrada em 2021.

Contudo, essa antecipação nos levou a revisar a projeção de curto prazo para cima. Dessa forma, passamos a esperar alta de 2,9% no IPCA de 2020, ante expectativa de 2,8%.

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Já a inflação de serviços, apesar da aceleração na margem, permanece em nível bastante contido. Nossos especialistas acreditam que essa elevação continuará pelos próximos meses à medida que o distanciamento social diminua e os aumentos de preços de vários itens que foram adiados devido ao isolamento social se concretizem. Esse comportamento deve ser visto também em 2021.

Risco de alta

Como mencionado anteriormente, o risco para o ano é de alta nos preços. Do lado de alimentação, o choque pode continuar se propagando até o fim do ano, sem o arrefecimento esperado por nós.

Além disso, parte do reajuste no preço de serviços postergado e descontos concedidos durante o período mais intenso de distanciamento social podem ser antecipados e revertidos de forma mais intensa no final do ano, à medida que voltamos à normalidade.

Diante disso, nosso time de Macroeconomia acredita que o Copom irá manter a taxa Selic inalterada em 2% ao ano na reunião desta quarta-feira.

Na visão do Comitê de Política Monetária do Banco Central, a pressão inflacionária de curto prazo, influenciada pelos "preços dos alimentos e a normalização parcial do preço de alguns serviços em um contexto de recuperação dos índices de mobilidade e do nível de atividade", é vista como temporária.

Além disso, nosso time de Macroeconomia afirma que o balanço de riscos deve sinalizar, de um lado, a preocupação altista com o não retorno ao cumprimento das metas fiscais e, do outro lado, o risco baixista decorrente de uma frustração com o ritmo de recuperação da economia em 2021.

Potenciais mudanças no fiscal permanecem sendo a principal fonte de risco para as projeções e para o cenário de estabilidade dos juros.

Dessa forma, nosso time de Macroeconomia mantém o cenário de estabilidade da taxa de juros em 2,0% ao longo de 2020 e 2021 na ausência de derrapagem fiscal significativa ou de uma transição difícil da economia após o fim dos atuais auxílios e outras medidas emergenciais tomadas ao longo de 2020.